loading . . . BYD inaugura sua fábrica na Bahia, primeira unidade de uma montadora chinesa no país Produção começará com kits de veículos importados da China; imposto sobre veículos elétricos sobe este mês para 25% Em meio à chegada de novas marcas chinesas disputando a atenção do consumidor brasileiro para carros elétricos e híbridos importados, a BYD (Build Your Dreams) inaugura nesta terça a primeira unidade de uma montadora chinesa no país. A fábrica de Camaçari, onde no passado funcionou uma unidade da Ford, vai produzir o SUV Song Plus, um híbrido plug in, e o elétrico Dolphin Mini.
A BYD anunciou investimentos de R$ 5 bilhões no país, sendo que R$ 1,4 bilhão foram desembolsados na unidade baiana, que já emprega quase mil pessoas e deve abrir mais três mil vagas, segundo a empresa. O objetivo da BYD, que vem liderando uma guerra de preços baixos na China, é produzir 50 mil unidades ainda este ano e subir para 150 mil em 2026.
As obras da fábrica da BYD começaram em março de 2024, e a ideia era iniciar a produção no primeiro semestre deste ano, logo após o Carnaval. Mas houve atrasos no cronograma depois que a BYD teve problemas com uma empresa terceirizada chinesa, a Jinjiang Group, que foi acusada pelo Ministério do Trabalho da Bahia de submeter 163 operários chineses trazidos para a obra a condições degradantes de trabalho.
Em maio deste ano, o MPT processou a BYD e outras duas. A ação civil pública pede o pagamento de R$ 257 milhões por danos morais coletivos. Em nota, a BYD disse que mantém um compromisso "inegociável" com os direitos humanos e informou que vai se manifestar nos autos da ação civil pública.
Sistema SKD
Na primeira fase da fábrica da BYD, estão sendo preparados o galpão principal (que ainda está sendo finalizado) para a montagem dos carros no sistema SKD (Semi Knocked Down, que é a importação de veículos semidesmontados). A empresa já anunciou o desenvolvimento de um motor flex, que vai equipar o híbrido Song Plus fabricado aqui. A BYD também pretende desenvolver um centro de pesquisa e tecnologia na Bahia.
Milad Kalume Neto, especialista no setor automotivo, afirma que é comum que no início das atividades locais de montadoras globalizadas sejam utilizados os SKDS. Mesmo aquelas que começam já com algum fornecimento de peças nacionais, iniciam com baixo índice de nacionalização.
— Começar com SKD e passar para CKD (importação de veículos desmontados) e, dependendo do volume vendido, ter produção local, é natural. Depois vai nacionalizando o fornecimento de itens como pneus, bancos e outros. E a BYD vai fazer isso. O mais importante é ter nacionalização da produção de baterias. A Toyota, por exemplo, que já produz veículos eletrificados no Brasil, ainda utiliza baterias importadas, não produz aqui. Mas para isso acontecer, é preciso ter volume de vendas relevante — explica o especialistas, lembrando que o Brasil deve se tornar base exportadora da BYD para países vizinhos.
Na disputa pelo mercado de eletrificados, lembram os especialistas, a BYD, também tem a vantagem de ser uma green tech, empresa de tecnologia verde, que além de fabricar os veículos, detém a produção de baterias para seus carros elétricos e também faz o beneficiamento do lítio, mineral usado nas baterias. A BYD adquiriu, em 2023, direitos minerais sobre duas áreas no Vale do Lítio, região rica em lítio em Minas Gerais.
Como previsto em lei, a BYD terá 12 meses para deixar de produzir os veículos com os kits SKD e iniciar o processo de nacionalização. Enquanto isso não acontece, a BYD fez um pedido de redução tarifária ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) nos kits SKD e CKD, de 5% para carros elétricos e 10% para híbridos. Hoje, as taxas são de 20% para híbridos e 18% para elétricos. A análise será feita pela Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Para veículos importados já montados, o imposto de importação está sendo recomposto e deve chegar a 35% em 2026. Neste mês de julho, a taxa sobe de 18% para 25% para carros elétricos e de 20% para 28% para os híbridos plug-in. A Anfavea, associação que representa as montadoras já instaladas no país, defende a antecipação para agora da cobrança dos 35% sobre veículos importados, alegando que isso pode impactar investimentos das fabricantes em novas tecnologias anunciados recentemente.
A fábrica da BYD em Camaçari será a maior da empresa fora da China (existe outra unidade na Tailândia) e é uma espécie de 'espelho' da unidade de Changzhou, no distrito nacional de Alta Tecnologia. Na China, a fabricação de um carro nessa unidade leva em média 4 horas. A fábrica de Changzhou, visitada pelo GLOBO, tem quatro linhas de produção e alto grau de automação, robôs alemães e japoneses em praticamente todas as etapas de fabricação.
Para celebrar a inauguração da fábrica, a BYD anunciou descontos nos carros que serão produzidos na Bahia. O preço do Dolphin Mini está em torno de R$ 120 mil e o Song Plus em torno de R$ 200 mil. No ano passado, a BYD vendeu 77 mil veículos no Brasil e este ano, as vendas totalizam 47 mil.
Mercado em crescimento
O mercado de eletrificados deve vender este ano 170 mil unidades. Outras marcas chineses estão trazendo seus modelos ao país, acirrando a concorrência. A GWM vai começar a produzir no fim de julho o SUV Haval 6 e a picape Poer em sua unidade no interior de São Paulo.
A GAC, a Omoda e Jaecoo e a Geely, também entraram na briga pelo consumidor brasileiro. A Omoda & Jaecoo, do grupo Chery, comercializa desde abril os modelos Omoda E5 (um SUV elétrico) e Jaecoo 7 (um SUV elétrico plug in) por R$ 210 mil e R$ 230 mil, respectivamente. A montadora também tem intenção de produzir no Brasil.
A Geely acirra a concorrência trazendo ao Brasil o modelo EX5, um SUV elétrico que marca o retorno da marca ao país, desta vez com modelos 100% elétricos. O lançamento está previsto para julho, em concessionárias da Renault, marca com a qual a chinesa tem parceria no Brasil.
A GAC, sexta maior fabricante de veículos da China, desembarcou no Brasil em maio, com o início das vendas de seus elétricos no país. Serão oferecidos cinco modelos, quatro elétricos e um híbrido, entre R$ 169,9 mil a R$ 299,9 mil. A montadora tem planos de produzir no Brasil.
— Nossa estratégia para o Brasil é totalmente baseada nas condições locais. O compromisso é oferecer veículos com tecnologia de ponta, a preços justos e compatíveis com poder de compra do consumidor brasileiro — diz Alex Zhou, CEO da GAC Brasil. http://dlvr.it/TLg47M