loading . . . Após 8 anos, Vital Brazil retoma fabricação de soros contra animais peçonhentos Após oito anos, o Instituto Vital Brazil (IVB) retoma a fabricação de soros hiperimunes, essenciais no tratamento contra picadas de animais peçonhentos, como cobras e escorpiões; além dos antitetânico e antirrábico. Vinculado à Secretaria de Estado de Saúde, o laboratório passou por uma ampla reestruturação e modernização, com investimento estimado em até R$ 40 milhões. O instituto volta a ser um fornecedor estratégico para o Sistema Único de Saúde (SUS), com estimativa de produção de 150 mil ampolas em 2026 e capacidade instalada para 300 mil ampolas anuais.
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Acidente de parapente mata bicampeão brasileiro de asa-delta em São Conrado
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), nos últimos três anos, o Rio registrou 13.555 acidentes envolvendo animais peçonhentos, com 28 mortes no período. As aranhas foram responsáveis pela maioria das ocorrências: 1.201 casos — mais que o dobro das picadas de serpentes (522 registros).
Recorrência é particularmente maior na capital fluminense: em 2025 (até outubro), o município registrou 635 casos, liderando o ranking de cidades. No topo dessa lista também estão as aranhas, que lideram os registros com 272 casos na cidade, superando as ocorrências com serpentes e lacraias (76 casos cada).
— A retomada na produção dos soros hiperimunes representa um marco histórico para a saúde pública. Esse é um investimento de impacto nacional, que beneficia todo o país — afirma o governador Cláudio Castro.
A retomada de produção no IVB — o único laboratório público do estado — acontece após autorização concedida em outubro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
— Após uma inspeção da Anvisa, recebemos novamente o certificado para retomar nossa produção. Isso é crucial, pois permitirá que o Brasil tenha uma quantidade maior de soros e uma melhor distribuição para o atendimento de acidentes com animais peçonhentos — contou o diretor-presidente do IVB, Alexandre Chieppe.
Investimento e modernização
A paralisação da produção de soros ocorreu em 2017 devido à necessidade de adequação às novas exigências regulatórias e dificuldades em atendê-las em tempo hábil, de acordo com Chieppe. Desde 2023, o instituto passa por uma reestruturação intensiva da fábrica de soro, focada na reorganização e na modernização do parque tecnológico.
O que mudou na produção:
Readequação tecnológica: Foi realizada uma remodelação de todo o parque tecnológico. "A produção é igual a uma orquestra, você tem que ter os equipamentos bem afinados, mas você tem que ter toda a equipe também trabalhando de forma bem organizada", compara Chieppe.
Sistemas críticos: A modernização incluiu a reestruturação dos sistemas críticos, como o de produção de água (essencial para um produto injetável) e o de ar comprimido.
Rastreabilidade e segurança: Implementação de sistemas de rastreabilidade de toda a linha de produção para garantir a segurança e conformidade.
Investimento: O apoio financeiro da Secretaria de Estado de Saúde resultou em um investimento total estimado de R$ 30 a 40 milhões, segundo Chieppe, abrangendo a requalificação de funcionários e a modernização.
Recursos humanos: Houve uma reestruturação do quadro de pessoal e capacitação de toda a equipe para garantir a operação e identificação de problemas, um processo contínuo e fundamental. Atualmente, o IVB conta com 112 funcionários, além de colaboradores.
— É um orgulho para a equipe da Secretaria de Estado de Saúde fazer esse anúncio e, claro, garantir um reforço substancial na proteção de milhões de brasileiros — ressaltou a secretária estadual de Saúde, Claudia Mello.
O Vital Brazil integra o seleto grupo de laboratórios que fornecem soros ao Ministério da Saúde, atuando em colaboração com instituições como o Instituto Butantan. Essa união fortalece a produção nacional, garantindo maior disponibilidade para todo o país.
Soros a serem produzidos pelo IVB:
Antibotrópico (contra o veneno de serpentes)
Anticrotálico (contra o veneno de cascavéis)
Antibotrópico-crotálico
Antibotrópico-laquético (contra o veneno de serpentes)
Antiescorpiônico
Antitetânico
Antirrábico
Aumento de casos
O número de ocorrências de acidentes com animais peçonhentos tem mantido a SES-RJ em alerta. No mês passado, foi criada uma nova aba no site da secretaria, dentro do painel Monitora RJ para acompanhar os dados de acidentes com cobras e escorpiões. Desde 2022, houve um aumento de casos atendidos pela rede estadual de saúde, com o registro de 13.555 casos.
A capital concentra o maior volume: 635 casos em 2025, o maior entre os 92 municípios. Do total:
98% em área urbana;
272 por aranha;
76 por lagarta;
76 por serpente.
Em 2024, foram 1.932 casos — também com maioria em área urbana (94%). A sazonalidade se mantém: maio, no outono, concentrou o pico de acidentes em 2024.
Depois, Petrópolis, que concentra 11% dos casos do estado, com 382 notificados até outubro deste ano. Desse total, foram 253 picadas de aranhas e 19 de serpentes.
A produção dos soros hiperimunes no IVB é um processo complexo, rigoroso e de longo prazo. O ciclo completo, da obtenção do veneno até a ampolagem, pode levar até oito meses. Tudo começa com a obtenção dos antígenos, que vêm dos venenos dos animais de interesse médico (serpentes, escorpiões, aranhas), da toxina tetânica ou do vírus rábico. Esse material, coletado de serpentes do IVB no serpentário em Xerém, ou nos animais que ficam na sede, em Niterói, é injetado em pequenas quantidades nos cavalos da Fazenda Vital Brazil, que fica em Cachoeiras de Macacu.
— A gente faz sempre uma imunização numa quantidade pequena, não tem risco para o animal. Depois entramos o veneno no corpo do cavalo, que vai produzir os anticorpos específicos — explica Camila Braz, diretora industrial do IVB.
Dias depois, o sangue dos equinos, contendo os anticorpos produzidos, é extraído. O plasma é separado do restante, que retorna para o animal. Segundo Braz, o cavalo é escolhido por sua fácil adaptação ao habitat brasileiro e por conseguir doar uma boa quantidade de plasma sem prejuízo à saúde. Ele tem um tempo de recuperação e só pode ser sangrado novamente após esse período.
O plasma é enviado ao laboratório do IVB, em Niterói, e mantido em câmara fria.
A fábrica usa cerca de 160 litros de plasma por lote, sendo que um cavalo fornece cerca de 3 litros por sangria.
A próxima etapa é a purificação. O plasma é transferido para um reator estéril de 400 litros para a digestão péptica, onde o anticorpo é "digerido", permanecendo apenas a parte que se liga ao antígeno de interesse.
O soro passa por um processo de precipitação, onde os anticorpos são purificados e separados. Em seguida, processos como diafiltração, clarificação e isotorização refinam e estabilizam o produto.
Nesta fase, o concentrado de anticorpos segue para os testes de controle de qualidade.
Se aprovado, ele é diluído em concentração adequada para o paciente, e segue para formulação, envase, teste de integridade, revisão e, por fim, o acondicionamento para a distribuição ao SUS.
A partir do plasma recebido, o aproveitamento é de 30% a 40%, que é a parte que pode salvar vidas.
— Como um produto biológico, os soros hiperimunes são produtos de fácil contaminação. Todo o cuidado é voltado para a proteção do soro durante a sua produção. Precisamos ter processos controlados, áreas adequadas, máquinas qualificadas e operadores treinados, tudo feito com o máximo cuidado do início ao fim do processo — afirma Braz.
O soro envasado tem validade de três anos nos equipamentos públicos de saúde.
Onde buscar o antídoto no Rio
Atualmente, o estado conta com 30 unidades de saúde na oferta dos soros hiperimunes. Na capital fluminense, quem tiver acidentes com animais peçonhentos pode ir até o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, Zona Sudoeste do Rio, ou ao Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste.
O estado também conta com uma linha direta para acidentes, com um plantão para emergências: (21) 9859-66553.
A retomada da produção de soros pelo IVB é vital, especialmente em um contexto de aumento de acidentes e de questões logísticas de distribuição que podem ser fatais. A importância do antídoto foi tristemente reforçada em novembro deste ano, quando o adolescente Miguel de Jesus Silva, de 13 anos, morreu em Itaguaí, na Baixada Fluminense, com suspeita de picada de cobra. Segundo a família, o Hospital Municipal São Francisco Xavier, onde ele foi socorrido, inicialmente não teria o soro antiofídico.
Sobre o caso, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) informou que os soros são disponibilizados pelo Ministério da Saúde e distribuídos aos polos pactuados com os 92 municípios do estado, com base na frequência de acidentes. Em casos de acidentes, o hospital deve definir a conduta, que pode ser a transferência do paciente ou a solicitação do soro no polo mais próximo.
Para evitar fatalidades, a Lei 10.727/2025, sancionada pelo governador Cláudio Castro, passou a ser obrigatória em abril de 2025. Ela determina a disponibilidade de soro antiofídico e demais imunobiológicos contra acidentes com animais peçonhentos em todas as unidades de saúde e parques florestais sob gestão estadual no Rio. A lei exige rigoroso controle de validade, conservação e o seguimento de protocolos clínicos atualizados pelos profissionais de saúde.
Do veneno ao antídoto http://dlvr.it/TPNp5p