Não sei se todos percebemos o que está a acontecer. O Chega consegue parar o país mediático para celebrar em directo um segundo lugar. Não há vergonha em Portugal.

O grande filão literário, desde Molière e os seus maníacos geniais, é a observação cómica de gente incapaz de se observar a si própria. Estamos agora num momento alto dessa linhagem. Políticos e jornalistas querem subitamente “pensar” e “ter ideias” com a compostura de Tartuffe.

Para o PS, Pedro Nuno Santos passou de ungido a pária em menos tempo do que um rapaz se torna macho esquerdopata no feed de uma adolescente.

Amigos socialistas, não vos inquieteis. O nosso camarada, o “daddy” Pedro Nuno, fez uma excelente campanha, focada e disciplinada e tal, e só derivado aos ciclos políticos e assim é que esta débâcle aconteceu. Tenho a certeza de que ainda terá um futuro radioso ao leme do nosso Partido Socialista.

Enfim. Como disse à mulher, numa boutade apócrifa, aquele cidadão florentino que certa manhã se preparava para ir com ela à igreja: “venha, minha senhora, vamos lá prestar homenagem ao erro popular”.

Wines by the glass: a lost opportunity for restaurants. www.nytimes.com/2025/05/08/d...

Apple executive with hands together: "Advertise? Like common PEASANTS? Those who need to see the show will find the show."

O que chateia nos idiotas do Climáximo não é a ineficiência, é a contra-eficiência. Eles pegam numa ameaça existencial e escolhem ser uma ferramenta de quem quer derrotar a causa que defendem. Isto é imperdoável, e nenhum paleio sobre boas intenções justifica a nossa tolerância.

Agora recordo que ainda não divulguei aqui o meu caderno de encargos para votar no PS (viva). Exigi uma assinatura gratuita do Ação Socialista, um lugar cativo na mesa redonda do Belmiro e um fim-de-semana de caça às perdizes com o Manuel Alegre, de preferência vivo. #ocínicodoPS

Não, não votei hoje. Quero ter ainda alguns dias, e não apenas anos, para me arrepender.

Não me custa muito anunciar o voto no PS e ser agredido por pessoas que me odeiam. O que me custa mais é anunciar o voto no PS e ser elogiado por pessoas que eu odeio.

Muito a contragosto, decidi. Estamos à beira de uma crise económica e vamos precisar de um Governo que não abandone os mais frágeis. O PS tem feito uma campanha de merda, Pedro Nuno Santos é um líder fraco (e bloqueou-me), mas o partido ainda tem alguma consciência social. Enfim, vai ter o meu voto.

A nossa — da gente de esquerda — principal culpa no estado geral do país foi termos aceitado como boa a ideia de que podíamos ser elitistas. A ilusão de que pessoas que moram no Príncipe Real, têm seguros de saúde e filhos no Pestalosi podem dizer merdas relevantes sobre “o povo”. Agora é lidar.

E eis que quando a economia recua 0,5%, a esquerda cai numa ratoeira pueril e desata a falar da deportação de imigrantes anunciada pelo Governo como se fosse esse o assunto que a pode fazer ganhar votos. Não tenho pachorra para tanta parvoíce. Não tenho mesmo.

“Então é assim, Pedro Nuno: o jovem está na cozinha, tira uma caneca, mete na Nespresso, música bué fixe e depois aparece escrito na caneca “Portugal precisa de 1 impulso.”” “Mas escrito como?” “Num papel. Escrevemos no papel e colamos à caneca”. “Mas qual papel?” “Um papel”.

Para aprovar uma campanha partidária não é preciso ser um génio. Basta estar de acordo com os objectivos, a estratégia e a mensagem e aceitar execuções limpas com alguma graça ou dramatismo que respeitem o budget. Que os nossos partidos não sejam capazes de fazer isto é muito angustiante.

Está decidido, voto no Livre. Isto é mau demais.

A minha filosofia é: nenhum percalço nos deve impedir de saborear um bom vinho. Este alvarinho de Rias Baixas, com aroma a ervas e delicadamente floral, celebra o garbo e o donaire da Península Ibérica nesta hora difícil em que blá blá blá dois povos blá blá blá um destino comum blá blá blá ¡Salud!

O facto de quer o PSD quer (mais discretamente) a IL estarem a disputar franjas do eleitorado do Chega também é um sinal de enfraquecimento do partido do André Ventura e não apenas de declínio de valores como à esquerda se pensa. Ou seja, pode ser uma boa notícia.

Marcha do Sal (1930, Índia): algumas mortes. Marcha da Morte (Bataan, 1942): quase 20 mil filipinos e americanos mortos. A Longa Marcha (1934, China): mais de 90 mil mortes. A Marcha da Avenida (25 de abril de 2025, Lisboa): dezenas de vítimas entre os tuiteiros da Iniciativa Liberal.

Isto do 25 de abril lembrou-me a primeira vez que, jovem adulto, fui a Paris. Estava a ver a torre Eiffel e, de um momento para o outro, começam a fechar tudo, a pôr bancadas de metal etc. Como já arranhava algum francês perguntei o que era aquilo: “C’est une grande fête, monsieur! Le 14 Juillet”.

Claro que esta linguagem - a manipulação, etc. - é pobre. Afinal, existem “convicções” e “a realidade”. Mas acredito mesmo que o empiricismo dos partidos é performativo: eles vivem e sabem que vivem num simulacro, e não ignoram que a revolta contra esse simulacro é o populismo.

Não vai ser difícil votar. Estou entre o Livre e o PS, como me tem acontecido – muito a contragosto, – e hei-de decidir de acordo com a manipulação que na altura for mais eficiente. Mais difícil é calcular o percurso dessas manipulações e perceber como e porque é que resultam.

Bom 25 de quê?

Eu explico, manos. O que se passou foi que vocês vieram para aqui “fugir ao algoritmo” e escapar ao conformismo do Twitter. Só que o algoritmo dava-vos uma arena para o confronto e aqui não há confronto, só arranjos florais. E agora sentem-se presos, porque isto é do mais conformista que se arranja.

A saída do Sérgio Sousa Pinto deve ser o maior desgosto que a direita portuguesa teve desde a aprovação do casamento gay.

O receio de que a IA destrua as “profissões criativas” só é justificado se essas profissões não forem tão criativas como dizem. A criatividade é uma baliza móvel: tudo o que uma máquina consiga fazer deixa de ser criativo por definição. Isto devia ser óbvio.

Não sei se “os menores estão com o Chega” é uma mensagem prudente para o partido, para os eleitores ou, principalmente, para os próprios menores.

Ainda a provar Bordeaux antes que venha o calor. Este é um 2º vinho do Chateau d’Issan, margem esquerda, predomínio de Cabernet Sauvignon e depois Merlot. Aroma exuberante, fruta preta, tabaco, especiado, elegante.Foi com carne assada, porque estamos a treinar para a campanha eleitoral.

O Arbois.

Impressiona como esta “nova direita” (Trump, Milei, Truss) é tão temerária a impôr políticas disruptivas, mesmo desastrosas, enquanto a esquerda (Geringonça etc.) avança sempre com pezinhos de lã. A esquerda tornou-se o grande partido conservador da ordem neoliberal. Irónico, né?

Por todo o país, o nosso povo aguarda em suspensão. - Preferes a moção de censura ou de confiança Adozinda? - Eu queria uma comissão parlamentar de inquérito, para ficar mesmo esclarecida. - Não tens medo da dissolução? - Não, filha, não tenho. Quando me casei já ia dissoluta.

O Twitter não funciona, manos. Conseguimos.

O paleio de que “a Europa tem de enxugar o Estado Social para fazer a guerra” (ainda ontem o Ganesh papagueava algo assim) funciona como, em democracia? É suposto os eleitores votarem neste plano brilhante? Ou vamos enganá-los, como nos tempos da austeridade? Não aprendemos nada?

Um dos textos mais interessantes da minha semana caiu agora no Substack, onde Nigel Fergusson compara Trump a Nixon. Uma comparação política e estratégica, com alguma idealização de Trump, que nos dá outra perspectiva do que se está a passar: open.substack.com/pub/niallfer...

passa-se entre 1976 e 1980 e é, por aquilo que estou a ver a páginas 150, a história da destruição de Jimmy Carter e do take over do Partido Republicano por Reagan. É um livro impressionante pelo modo como nos fala nos dias de hoje a 50 anos de distância. Estava tudo aqui.

Abri isto enquanto fazia o jantar — um Colares de 97 (28 anos), vinho sedutor, com 11° de álcool, aromas a tabaco, couro, alcaçuz, e uma frescura notável para a idade. Gosto cada vez mais de vinhos velhos. Julgo que há-de acompanhar bem a crise política e umas massas com ragú.

E agora um Listan Blanco das Canárias (ou Palomino, Malvasia Rei em PT) de pé franco. Muito salino, mais interessante que agradável, parece um orange e dá uma prova intrigante, algo raro para uma pessoa tão opinativa como eu. Acho graça mas não sei se gosto. Acompanhou bem gambas al ajillo, though.

O regime já não estava famoso, mas é preciso um tipo especial de tolerância para aceitar que um primeiro-ministro adquira apartamentos com várias contas pequenas de modo a não ser detectado pela Entidade da Transparência. Seria até um óptimo tema de campanha se o PS se sentisse, digamos, à vontade.

Almoço no Prado com 4 amigos. O espumante era óptimo e o Chardonnay do Jura uma coisa incrível.

Blend de Malvasia e castas locais das Canárias, tem algo indefinível para mim entre o herbáceo, o tropical, a levedura e o aloé que faz um conjunto encantador. De resto é leve e agradável, e acompanha bem ovos e legumes salteados.

“Ah Luis Jorge, agora bebes Porta dos Cavaleiros como o meu sogro?” Bebo, manos. Principalmente se tiver 40 anos — é o caso deste. É a 2ª vez que provo o de 84 e estava delicioso, muito fresco para a idade que tem. Complexo, meloso e mineral, com abacaxi e flor sabugueiro. Emociona.

Em 1989, um artista canadiano foi julgado por usar fetos humanos com dois a quatro meses para fabricar brincos que expôs numa galeria. Associamos o extremismo à política ou à religião, mas é insighful pensar nisso de outra maneira.

Acrescento o link agora

Venho uma vez por inverno a este restaurante em São Pedro de Sintra. É mignon, tem lareira, boa comida e tal. Infelizmente a garrafeira é uma merda, por isso trouxemos o vinho. Bom baga de avô, com tabaco, terra, pimenta, cereja. Mas caro: por este preço encontrava um bom Rhône.

Mais uma vez: se o encontrarem, agarrem-no.

Queria um vinho para hambúrgueres e, sem desconhecer que há toda uma literatura sobre isso, estou-me a marimbar. São hambúrgueres, fdx. Um bom mencia (Jaen) de Bierzo, à falta de um Morgon ou de um Bordeaux da margem direita, resolvem lindamente. Este é macio e aromático. Gosto.