loading . . . Selton Mello volta à 'Sessão de Terapia': 'Somos o único lugar do mundo onde a franquia foi tão longe; Diz muito sobre o Brasil' Ao GLOBO, ator falou sobre observar na sexta temporada da série um episódio que viveu na vida pessoal e pequena imitação que fez do próprio terapeuta: 'Ele teve que mudar' É por meio de rápidos cochilos ao longo da pausa do almoço que Selton Mello dá um freio na carga mental necessária para filmar os episódios de “Sessão de terapia”, série do Globoplay na qual está envolvido há quase 15 anos. Não é para menos, na produção — que está em etapa de gravações da sexta temporada e tem previsão de estreia dos novos episódios para o ano que vem — o ator de 52 anos volta a dar vida ao terapeuta Caio Barone e também assume o papel de diretor. A atuação, ele disse ao GLOBO ao longo de uma visita às filmagens, é o que consegue levar com maior leveza. E isso, como algum psicanalista poderia sugerir, tem tudo a ver com a sua infância.
— Fui um ator mirim. Atuar para mim é muito simples, não exige psicologismo. Existe uma leveza enorme na coisa. Desligar é também fácil, e isso tem a ver com maturidade. Aos 30, você faz alguns trabalhos, mergulha, fica, sofrendo, vai pra casa e fica pensando. Não acredito mais nisso — analisa. — Agora entro num buraco profundíssimo, mergulho na vertical, como ir às profundezas e volto rápido. Isso é tempo, é estrada.
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No começo de maio, a equipe do “Sessão” gravava uma cena entre Selton e a atriz Grace Passô, que estreia no papel de Rosa Gabriel, outra terapeuta que fará as chamadas supervisões no trabalho de Caio. A grande preocupação ao longo dos trabalhos era dar a devida leveza ao diálogo, que naquele momento era centrado nas percepções de Caio sobre uma de suas pacientes.
O modelo baseado em filmar dois atores conversando sem muita influência externa pode parecer bastante teatral, mas na cabeça de Selton (aqui, com chapéu de diretor) a série é mais híbrida do que parece.
— Quem assiste imagina que a série é rodada de uma forma fluida, com duas câmeras ligadas e a gente conversando. Mas ela é feita como cinema, há muitos cortes, mudanças de lente. Nesse sentido, ela é muito próxima do cinema. A fluidez monto aqui na minha cabeça. Ela é teatral porque são duas pessoas conversando. É cinema, mas está na TV — comenta.
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Esse jeitão de ser de “Sessão de terapia” é sentido por quem é novato nas gravações, explica Grace. A atriz neste ano, inclusive, estreará na direção do filme “Amores”, produção da Globo Filmes.
—“Sessão de terapia” é uma série que já sabe o que quer alcançar, seus objetivos. É uma concepção que já escolheu conversar com seu público sobre assuntos complexos para um público expandido. É uma série que já tem sua maturidade — comenta Grace. — São duas pessoas conversando e que, juntas, vão se revelando. São intencionalmente poucos elementos (em cena) e tudo é construído sobre a atuação.
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O seriado, vale lembrar, não é uma criação brasileira. Trata-se de uma versão da série israelense "BeTipul", que teve duas temporadas e rendeu diversas versões internacionais. A do Brasil, lembra Selton, é uma das mais longevas — são cinco temporadas até agora e 13 anos desde o lançamento do primeiro episódio.
— Somos o único lugar do mundo onde a franquia foi tão longe e ainda trocou de terapeuta (nas três primeiras temporadas, o papel do terapeuta era do ator Zé Carlos Machado). Estamos na sexta temporada e vai que vai. Isso diz muito sobre o Brasil. O país da caipirinha, do samba, do sorriso, do molejo, da praia. Será que somos tão assim? — avalia Selton.
Jaqueline Vargas, autora, diz que a construção dos personagens que fazem o público brasileiro ficar grudado na tela do streaming está ligada ao cotidiano, às relações e as neuroses do dia a dia.
— O roteirista é um voyeur, eu observo as pessoas. A minha vida é basicamente isso, fico de olho em quem cruza meu caminho. E muita coisa eu tiro da minha vida pessoal, do meu entorno, dos meus amigos, da minha família. Não que eu pegue os conflitos familiares, mas dá sempre para achar uma ponta de iceberg que pode ser conectada a outra, ou outra e você acaba chegando no conflito universal. A chave é a observação — conta.
Tatiana Costa, Diretora de Gestão de Conteúdos Digitais & Canais Pagos, ressalta justamente o caráter coletivo que a série pode elucidar.
— “Sessão de terapia” é uma de nossas obras originais com vocação para impactar o público ao iluminar, com sutileza e profundidade, a complexidade humana e os dilemas aos quais todos estamos suscetíveis a vivenciar — afirma.
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O desenrolar das histórias, explica o produtor Roberto d’Ávila, precisa assemelhar-se o máximo possível à delicada evolução de um processo terapêutico real mas, é claro, oferecer dinamismo ao espectador, que tem um tempo limitado para ver essas evoluções.
— Os resultados terapêuticos têm que ser verossímeis, dentro das sete sessões de meia hora um um pouco menos (para cada paciente a cada temporada). Quem assiste tem que estar acompanhando o desenrolar, não dá pra forçar uma barra— conta Roberto.
No vai e vem das histórias pessoais a serem tratadas nas gravações, Selton foi confrontado nesta temporada com um cenário que conheceu na pele: a dor de uma paciente que observa o avanço do Alzheimer em alguém próximo. Selton lidou de perto com o diagnóstico da mesma doença na mãe, Selva, morta em 2024 aos 83 anos.
— Na verdade, foi mais tranquilo do que eu imaginava. Eu acho é porque eu já estava muito bem resolvido do que aconteceu com a minha mãe, a perda dela, o luto e tal. Se fosse pra perto da morte, eu acharia mais barra pesada — conta.
Ele não nega, porém, que a temática da série têm grande correspondência em sua vida pessoal. Diagnosticado com depressão anteriormente, o ator viu em “Sessão de terapia” um impulso para falar mais abertamente sobre saúde mental também no âmbito pessoal.
— Eu tenho uma natureza melancólica, sou mais fechado. Eu sou uma pessoa muito séria. Muito, assim, muito introspectivo. Essa é a minha natureza. Faço terapia e me conheço, sei quando posso escorregar. Antevejo. Conheço os sintomas, e vejo o caminho. Posso me antecipar, me organizar, e eventualmente me medicar. Tenho um psiquiatra e já fui medicado em alguns momentos para depressão e ansiedade. E é importante falar disso também — afirma.
No caminho inverso, a vida pessoal de Selton também permeia sua atuação no seriado. E, ele confessa, já causou um diminuto transtorno para seu terapeuta.
— Imito umas coisinhas dele. Imito como ele encerra a sessão, uma coisa meio, dar um suspiro e dizer “vamo lá”. Só que aí eu arrumei um problema pra ele, porque sacaram. E perguntaram: “você atende o Selton Mello”? Aí ele teve que mudar o jeito que terminava as sessões — diverte-se. http://dlvr.it/TKzjHg