loading . . . Lula diz que manifestações mostram rejeição à 'impunidade' e à anistia e cobra Congresso a aprovar medidas que deem 'benefícios ao povo' O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo que as manifestações contra as propostas que blindam parlamentares, já aprovada na Câmara, e tratam da anistia a envolvidos nos atos de 8 de janeiro, ainda em negociação, mostram que a população não quer "a impunidade nem a anistia". Ele cobrou o Congresso a aprovar medidas que tragam "benefícios ao povo".
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Movimentos de esquerda e artistas realizaram neste domingo uma série de atos com críticas ao Congresso Nacional, que durante a semana aprovou na Câmara a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, que dificulta a abertura de ações penais contra parlamentares, além do projeto que mira a redução de penas dos envolvidos no 8 de janeiro e na trama golpista. Os protestos foram convocados durante a semana pelas redes de movimentos sociais, parlamentares de partidos como PSOL, PSB e de artistas como Caetano Veloso, e chegaram a reunir mais de 40 mil pessoas nas capitais Rio e São Paulo.
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Os atos ocorreram em pelo menos 22 capitais pelo país, em manifestações durante toda a manhã e tarde. Com público concentrado no Masp, na Avenida Paulista, foram contabilizadas 42.379 mil pelo "Monitor do debate político", da USP. No Rio, onde o ato foi puxado principalmente pela presença de artistas e com menos viés político, 41,8 mil pessoas se concentraram na praia de Copacabana, segundo cálculos do mesmo estudo.
Segundo a colunista Bela Megale, o tamanho dos atos assustou os bolsonaristas. Apesar da ordem ser minimizar, em reservado, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmam terem ficado surpresos com o público.
Veja como foram os atos pelo país.
Artistas em coro contra PEC no Rio
A série de manifestações convocadas por artistas pelo Brasil teve como núcleo central a Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio. O ato carioca apostou em nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque para levar mobilizar milhares de pessoas na tarde deste domingo. A manifestação ocorreu em trio elétrico fixado na altura do Posto 5.
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Descrito nas redes como “ato musical”, a manifestação evitou a presença de políticos no trio elétrico. Pouco engajado com as falas de políticos, o público presente no local começou a demonstrar incômodo com o atraso para o início das apresentações musicais. Por volta das 15h10 foi possível ouvir gritos de “começa”. Com o forte calor, a produção do ato iniciou a distribuição de água para o público. Ainda assim, algumas pessoas precisaram ser retiradas da grade por relatarem mal-estar.
Apesar disso, na plateia era possível ver bandeiras e camisas de legendas da esquerda, como PT, PCdoB e PSOL. Ausentes do trio principal, figuras políticas marcaram presença em Copacabana, como a deputada estadual Dani Balbi (PCdoB-RJ), e os deputados federais pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Duda Salabert (PDT-MG). Os políticos chegaram discursar em trio menor posicionado a alguns metros do principal, antes do início das apresentações musicais. No público, muitos coros de “sem anistia” e contra Bolsonaro.
RI - Rio, 21/09/2025, Ato contra PEC da Blindagem e PL da Anistia, em Copacabana.
Leo Martins / Agência O Globo
A mobilização de Caetano, Gil e Chico movimentou as redes sociais nos últimos dias, com muitas pessoas lembrando a participação do trio na Passeata dos Cem Mil, protesto contra a ditadura militar no Centro do Rio, em 1968. Em vídeo publicado nas redes sociais na última semana, Caetano chamou a proposta em andamento no Congresso de "PEC da Bandidagem" e defendeu a realização de manifestações populares contra a iniciativa legislativa.
Diferentemente dos protestos bolsonaristas realizados no mesmo local no último dia 7 de setembro, em que o verde e amarelo foi o visual preferido das cerca de 40 mil pessoas presentes, neste domingo a paleta foi mais variada. O vermelho foi a opção de muitos, mas também foi possível observar muitas pessoas optando pelo azul, pelo verde e pelo amarelo, cores quase sempre acompanhadas de adesivos com dizeres como “sem anistia” ou “Brasil soberano”. O boné azul escrito “o Brasil é dos brasileiros” também foi a opção de muitos. O branco também se fez presente diante de um dia de forte calor em Copacabana e pelo fato do lugar ter abrigado horas antes uma caminhada em defesa da liberdade religiosa.
Ato contra PEC da Blindagem e PL da Anistia, em Copacabana. Caetano Veloso
Júlia Aguiar / Agência O Globo
Após espera paciente por parte da plateia, o ato musical teve início por volta das 16h15 com o aumento dos gritos de “sem anistia”. A seleção de hits políticos entoou o público durante cerca de duas horas. Maria Gadú abriu as apresentações cantando a sugestiva “Como nossos pais”, de Belchior, com direito a alteração na letra para dizer que “eles não venceram e o sinal está sempre aberto para nós que somos jovens”. Na sequência, Os Garotin cantaram “Olhos coloridos”, de Sandra de Sá. Marina Sena, “Brasil”, de Cazuza e tema da novela da TV Globo “Vale tudo”.
Caetano, que fez as vezes de mestre de cerimônia, fez uma sequência musical engajada com “Podres poderes”, “Gente”, “Um índio”, “Alegria, alegria” e “Desde que o samba é samba”.
— Sem anistia. O povo brasileiro elegeu Lula e por isso a democracia no Brasil resiste — afirmou Caetano. — Não poderíamos deixar de responder aos horrores que vem surgindo a nossa volta.
Ato contra PEC da Blindagem e PL da Anistia, em Copacabana. Ivan Lins
Júlia Aguiar / Agência O Globo
Caetano ainda levou ao palco Djavan, Gilberto Gil e Chico Buarque, que cantou o hino contra a ditadura “Cálice”, emendada com “Samba do grande amor”, na voz de Chico e Djavan. O palco ainda teve Geraldo Azevedo e Ivan Lins, que chamou a PEC da blindagem de “a maior cara de pau da história”.
SP com petistas históricos, Erundina, Tabata e Boulos
Em São Paulo, o público se concentrou a partir das 13h na Avenida Paulista, e se dispersou após uma forte chuva, por volta fas 16h30. No início da tarde, o movimento ainda era parecido com o dos domingos, quando as duas pistas permanecem fechadas para pedestres durante várias horas. Poucos minutos depois, sindicatos, partidos como PT, PCdoB e PSOL e movimentos sociais estenderam faixas, levantaram bandeiras e distribuíram materiais diversos, como adesivos de "sem anistia" e leques de papel contra a "PEC da Bandidagem".
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O trio elétrico alugado, curiosamente um veículo que já apareceu em manifestações bolsonaristas, ficou estacionado do outro lado da rua, junto à entrada do Parque Trianon. Foi possível encontrar manifestantes também com o boné adotado no Rio, "O Brasil é dos Brasileiros". As pessoas também vestiam camisetas da Seleção brasileira e portavam a bandeira do país.
Visualmente, o ato preencheu ao menos três quarteirões da avenida. De acordo com o Monitor da USP, o público chegou a 42,3 mil pessoas, por volta das 16h. Entre as fantasias mais curiosas estiveram um boneco do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos) de terno com uma placa convidando os transeuntes a xingá-lo porque "não se importa", além de um cover de Bolsonaro com uma gaiola na cabeça. Um homem também fez slackline na esquina da Alameda Casa Branca. Amarrando a base em duas árvores a alguns metros do chão, ele levantou um cartaz crítico ao Congresso.
Homem usa máscara e coloca Jair Bolsonaro ´na gaiola´ em ato na Paulista contra a PEC da Blindagem e projeto da Anistia
Samuel Lima/Agência O Globo
Gritos de "Uh, vai ser preso" e muitos xingamentos ao ex-presidente Jair Bolsonaro e também ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) eram ditas. Entre os políticos presentes, nomes do PSOL, como a deputada Luiza Erundina, além do ex-presidente de PT e deputado Rui Falcão, e de José Genoino.
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) afirmou que as mobilizações marcam a “retomada do protagonismo da esquerda nas ruas” e serve de recado para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), não ceder aos planos do PL. O parlamentar ainda chamou Eduardo Bolsonaro de “traidor da pátria“:
— A gente não vai aceitar nenhum tipo de anistia. Só queremos ver o Bolsonaro passar o Natal na cadeia, ele e os generais golpistas — disse o parlamentar, acrescentando que o grau de mobilização deve ter um efeito de dissuadir os senadores.
Em seu discurso, Boulos preparou o terreno para uma disputa entre o presidente Lula (PT) e Tarcísio de Freitas no próximo ano. O deputado alegou que, para além dos “recados” das ruas para Motta, a manifestação seria o início de uma caminhada que levaria a três resultados: a prisão de Bolsonaro, a vitória de Lula e a eleição da maior bancada de esquerda do Congresso em toda a história.
Atual presidente do PT, Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, apostou em um discurso sobre diferentes anistias que estariam em disputa atualmente, “para quem paga imposto, e não para quem tenta dar golpe“. Já a deputada Tabata Amaral (PSB) disse que o que se viu na semana passada foi “a união do bolsonarismo com a esfera mais corrupta do Congresso” e reforçou uma polarização que tem “de um lado os corruptos e os bolsonaristas e de outro o povo brasileiro”.
Outros deputados de PT, PSOL e PCdoB criticaram a PEC e a proposta de anistia. O padre católico Júlio Lancellotti, da paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, em São Paulo, fez coro à pauta e disse que “Deus está do nosso lado”.
Manhã em Brasília, BH e Nordeste
Pela manhã, atos foram realizados em Brasília, Salvador, Teresina, Belém, Natal, Manaus, Cuiabá, São Luís e João Pessoa. O grupo “Brasil nas ruas” levou artistas para protesto em diversas cidades. Marina Lima, em São Paulo, Chico César, em Brasília, Daniela Mercury e Wagner Moura, em Salvador, Silva, em Vitória, e Simone, em Maceió, foram alguns dos destaques.
Em Brasília, manifestantes se reuniram em frente ao Museu Nacional da República, na área central da cidade. Com faixas chamando a extrema-direita de “inimiga do povo” e chamando o projeto que impõe aval do Congresso para a abertura de processos contra parlamentares de “PEC da Bandidagem”, o grupo seguiu em direção ao Congresso.
Milhares de pessoas participam de um protesto contra uma iniciativa parlamentar que estende a imunidade para legisladores e um projeto de anistia que poderia beneficiar o ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, em Brasília.
EVARISTO SA / AFP
O ato teve um discurso do ex-ministro petista José Dirceu, que pretende se candidatar novamente a deputado no ano que vem. Ele criticou o Congresso e cobrou o andamento do projeto que aumenta a cobrança de impostos sobre a parcela mais rica da população.
Em Salvador, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) mostrou imagens do ato realizado a partir de Cristo da Barra. Além da cantora Daniela Mercury, o ator Wagner Moura discursou no trio elétrico para a multidão que se aglomerava no sol.
— Hoje eu acordei com vontade de vir aqui só para dizer coisa boa. Fiquei com preguiça de falar desse Congresso, fiquei com preguiça de falar de lei de desmatamento, de lei de bandidagem, de lei dessas coisas todas horríveis. Eu fiquei com vontade só de falar do momento extraordinário pela qual passa a democracia brasileira, que é exemplo para o mundo todo — discursou Moura.
Lanlan, Nanda Costa, Wagner Moura e Daniela Mercury em Salvador
Reprodução
Ato contra PEC da Blindagem e PL da Anistia, em Salvador (BA)
Romildo De Jesus/Ato Press/Agência O Globo
Já a capital mineira reuniu os manifestantes na Praça Raul Soares, que seguiram em marcha até a Praça Sete. De acordo com o site g1, os cartazes traziam dizeres como "Sem anistia", "Não à PEC da bandidagem" e "Em defesa da democracia". A deputada federal e ex-candidata a prefeita de Belo Horizonte Duda Salabert (PDT) atacou a PEC da Blindagem durante sua fala, afirmando que era para "blindar corrupto, assassino e pedófilo".
O ato em BH contou com três trios elétricos e shows de Fernanda Takai, da banda Pato Fu, e do grupo Lamparina.
Ato contra PEC da Blindagem e PL da Anistia, em Belo Horizonte (MG)
Dudu Macedo/Fotoarena/AgÍncia O Globo
O ato em Maceió contou com a apresença da cantora Simone. Na capital devido a um show, ela foi recebida com a canção “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, que também foi interpretada pela artista. O ator Marco Nanini esteve presente em Belém, onde está em temporada, e discursou palavras de ordem como “Sem Anistia“ e pela democracia.
Manuela D´Ávila e Randolfe em Porto Alegre e Macapá
Pela tarde, além de Rio e São Paulo, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Aracaju, Palmas, Curitiba, Florianópolis, Porto Velho e Rio Branco fizeram atos. Em Macapá, o senador Randolfe Rodrigues (PT) esteve presente. Segundo ele, “não se pode blindar autoridades nem anistiar quem atentou contra a democracia”.
Na capital do Rio Grande do Sul, uma das presentes na ato, a ex-deputada e candidata à prefeitura Manuela D´Ávila, esteve à frente da marcha na região central da cidade. O vereador Giovani Culau (PSOL-RS) fez uma postagem chamando a ex-deputada de “nossa futura senadora“.
Em São Luis, Goiânia e Boa Vista, os manifestantes mostraram imagens dos deputados federais do estado que votaram a favor da PEC da Blindagem.
* com informações do portal g1. https://sem-paywall.com/http%3A%2F%2Fdlvr.it%2FTNCbXw