loading . . . Pesquisa revela que seis em cada dez envolvidos com tráfico não ganham o suficiente para se manter Cordões de ouro, carros de luxo e festas regadas a ostentação costumam alimentar o imaginário popular sobre pessoas ligadas ao tráfico de drogas. A percepção de que essa atividade criminosa gera mudança de vida, porém, não corresponde à realidade para a maioria dos entrevistados em uma pesquisa inédita feita pelo Instituto Data Favela. Segundo o levantamento, seis em cada dez (63%) indivíduos envolvidos com a criminalidade em favelas dizem ganhar, no máximo, R$ 3.040 por mês, o insuficiente para manter suas necessidades básicas.
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Considerando somente esse grupo, quase a metade (44,4%) recebe somente até R$ 1.520.
— A maior parte dos entrevistados está na base da operação do crime. São funções como olheiro, fogueteiro, vapor, avião e segurança de ponto. Ou seja, é a base da pirâmide, não o topo. Isso explica por que a renda deles é bem mais baixa do que o imaginário costuma supor — explicou a equipe técnica do Data Favela.
Em 2006, o documentário ""Falcão - Meninos do Tráfico", uma produção do rapper MV Bill e do jornalista Celso Athayde, com o jornalista Frederico Neves, mostrou essa dura realidade nas favelas cariocas. O trabalho — que gerou reportagens no Fantástico e no jornal EXTRA — expõe a dura realidade de adolescentes e jovens que atuam como mão de obra para o tráfico de drogas em diversas localidades do Brasil.
O filme, que teve eve um grande impacto social e jornalístico à época, ganhou o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei da Espanha em 2007.
Dura realidade
A renda limitada ajuda a explicar outro ponto relevante identificado pela pesquisa: 36% dos entrevistados precisam buscar outra atividade.
Entre as ocupações extras mais relatadas estão construção civil, serviços gerais, entregas, pequenos reparos, comércio informal e transporte alternativo. Ou seja, a atividade criminosa não é suficiente para cobrir necessidades básicas.
— Provavelmente esses 36% não têm passagem pela polícia, o que permite manter uma segunda ocupação. Quando falamos de territórios com ausência histórica de políticas públicas, existe um elemento de sedução sobre o que seria “estar no crime” que não condiz com a realidade — afirma Cleo Santana, co-presidente do Data Favela.
Pesquisa feita por moradores
Esses dados fazem parte do "Raio-X da Vida Real", do Data Favela, maior levantamento já realizado com pessoas atualmente em atividade no tráfico. Mais de quatro mil respostas foram coletadas em favelas de 23 estados entre 15 de agosto e 20 de setembro. A pesquisa conta com 84 questões sobre renda, família, escolaridade, saúde mental, trabalho, sonhos e visão de mundo.
Geraldo Tadeu Monteiro, técnico do Data Favela, explica que as entrevistas foram feitas com entrevistadores treinados, que moram nas comunidades abordadas, com o auxílio de um aplicativo.
— Para preservar a segurança, a gente evitou que as entrevistas fossem gravadas e fosse registrada geolocalização. Ao todo, cinco mil entrevistas foram realizadas, mas mil foram descartadas por critérios de qualidade, como respostas incompletas ou tempo de entrevista muito curto — detalha.
O levantamento completo será divulgado em uma transmissão ao vivo pelo Instagram do Data Favela (@datafavela) nesta segunda-feira (dia 17), a partir das 9h. http://dlvr.it/TPJqWS