loading . . . Carol Castro: 'Prefiro usar minha influência para um bem maior'
Aos 41 anos, atriz celebra o sucesso de Clarice, de 'Garota do Momento', que considera sua melhor personagem na televisão, diz que já perdeu trabalho por se posicionar politicamente, fala da busca pela equidade salarial entre homens e mulheres e conta do luto pela morte do pai Carol Castro chegou à reta final de Garota do Momento com uma certeza: Clarice é sua melhor personagem na televisão. Vítima do machismo típico dos anos 1950, foi internada como “louca” pelo marido, em um apagamento da mulher que até hoje ocorre. A atriz sentiu, sim, muita raiva, mas também ficou realizada. "Nada é por acaso e também tudo acontece na hora certa. Por mais que questione ‘ah, por que demorou?’ [um papel como Clarice], procuro não ir por esse caminho e ver o copo cheio. Sinto que Clarice veio realmente no momento também de renascimento de vida pessoal”, explica. +Quem Disse Carioca, Carol passou parte da infância em Natal (RN), e virou atriz seguindo os passos do pai, Lucas de Castro, que morreu em dezembro de 2023. O luto ainda é uma ferida aberta para a atriz, que em um ano e meio enfrentou a perda, uma cirurgia para reconstruir os ligamentos do joelho, com uma recuperação muito dolorosa, e a chegada dos 40. “Era uma dor física, uma dor na alma, o psicológico super abalado. Foi um mergulho interno muito forte. De certa forma, o trabalho foi uma bengala”, confessa. Há algum tempo, ela conta, está em um processo de maturidade que se reflete em vários aspectos de sua vida: da maternidade da única filha, Nina, de 8 anos, com o maestro Felipe Prazeres, seu ex-marido, à carreira e ao posicionamento sobre temas que vão da misoginia à defesa dos direitos LGBT+, passando pela equidade salarial entre homens e mulheres. Carol se manifestou a favor da ministra do Meio-Ambiente, Marina Silva, alvo de falas consideradas machistas em comissão no Senado, e criticou a escolha de Virginia Fonseca, que depôs na CPI das Bets, para ser rainha de bateria da Grande Rio no Carnaval 2026, com enredo sobre o Manguebeat, movimento musical que denunciava a desiguldade no Nordeste nos anos 1990. Carol Castro @viniciusmochizuki "Quando me posiciono, vem assim ‘ah tá querendo lacrar, ah, faz o L, cadê o povo cantando Amazônia, ganharam não sei quanto’. Não tem dinheiro nenhum, meu amor. A gente está colocando a cara tapa mesmo em prol do que acredita que seja melhor”, frisa. “Já que eu tenho esse lugar de ser também uma formadora de opinião e ter uma certa influência, em uma época de influenciadores em situações ou ações com as quais eu não concordo, eu prefiro usar minha influência para um bem maior. Que seja uma luta contra o patriarcado, uma luta feminista, pelo meio-ambiente, pelos povos indígenas”, avisa. O amadurecimento, Carol afirma, é lugar de coragem, de domínio de si mesma, autoconhecimento. “É encontrar, também, um estado de paz que está junto ali da aceitação de quem você é. Me libertei das amarras do meu autojulgamento, da minha autocrítica”, diz. Carol, que era gaga na infância, fez um período de jornalismo e estreou na televisão como a Gracinha de Mulheres Apaixonadas, em 2003. Tem na ponta da língua o que diria para aquela jovenzinha de 19 anos. “Falaria 'acredite mais em você, tenha coragem de dizer certos nãos e continue a nadar que você está no caminho certo”, garante a atriz, que dia 9 de julho estreia Jogo Cruzado, série do Disney+ com José Loreto. “Quando eu olho para trás, faria tudo igual porque eu tenho muito orgulho de ter chegado onde eu cheguei, sem passar para cima de ninguém, sem me vender para nada, com a consciência limpa, sem mentiras, sem tramoia”, diz. Garota do Momento está na reta final. O que você leva da novela? Uma sensação de dever cumprido e de realização, porque essa personagem era realmente tudo que eu queria há muitos anos, principalmente na televisão, onde entrei muito nova, com 19 anos, e fiquei metade da minha vida. É um momento de amadurecimento [profissional]. Por mais que questione ‘ah, por que demorou?’ [um papel como Clarice], procuro não ir por esse caminho e ver o copo cheio. Nada é por acaso e também tudo acontece na hora certa. Eu me sinto muito feliz, estou saindo com mais bagagem, e quanto mais vivência, melhor para o nosso ofício. É como um bom vinho que ao longo do tempo fica mais apurado. Clarice veio realmente também em um momento de renascimento de vida pessoal, após cirurgia, perda do meu pai. "Dizer que Clarice é meu maior trabalho é delicado, mas talvez seja a personagem que tenha mais nuances e camadas" Carol Castro @viniciusmochizuki quem Há quem diga que Clarice é seu melhor papel na televisão. Concorda? Clarice me exigiu muito e me desafiou em vários níveis: físico, psicológico, profissional. Eu entrei na trama aos 45 do segundo tempo, a última a entrar do elenco [fixo], no final de julho de 2024. É quase um ano de experiência, gravando seis vezes por semana, 11 horas por dia, tudo intenso, real. Dizer que é meu maior trabalho é delicado, mas talvez seja a personagem que tenha mais nuances e camadas, e com a qual pude atingir também um público que às vezes não se alcança com uma série ou um filme. Pela dimensão e pela importância também da personagem na trama, sem dúvida é o maior personagem da minha vida até agora na TV. Você vivenciou por um ano o machismo do qual Clarice foi vítima. Mexeu com você? Muito, muito. As pessoas me perguntam 'nossa, como é que você consegue se emocionar tanto em todas as cenas com tanta facilidade?'. Muitas vezes eu nem buscava isso, simplesmente acontecia, justamente por eu me colocar no lugar dessa mulher, que teve a vida roubada, apagada. Você fica revoltada como mãe, como mulher. Isso me deixava com frequência à flor da pele, no lugar da personagem e também da atriz, julgando aquela situação, 'Meu Deus, como é que pode esse relacionamento tóxico, esses crimes hediondos'. Mexeu comigo. Clarice passar por situações que até hoje acontecem com as mulheres: foi tida como louca, a luta para responsabilizar o homem que destruiu sua vida, a luta para provar que está certa... Quando Clarice foi internada em uma clínica psiquiátrica em Garota do Momento, fiquei muito indignada. Era muito comum naquela época a mulher ser internada ou porque ia contra o que o marido queria, ou porque estava passando por um puerpério, uma TPM. Qualquer coisa virava motivo para 'ah, é louca, interna, está histérica'. Ao mesmo tempo que eu tive essa sensação de ‘que absurdo, que ódio, que raiva desses médicos que faziam isso e desses maridos’, fiquei muito feliz em poder contar essa história, que acontece até hoje. Este é o verdadeiro sentido da arte, passar conhecimento de um passado que ainda existe no presente e que pode existir ainda no futuro. Em tempos em que o futuro é algo tão incerto e tão confuso de se pensar, nestes tempos tão difíceis e sombrios que estamos passando no mundo e no Brasil, acho muito importante os momentos em que a gente sente essa angústia, essa raiva na novela, e que transporta para a vida real. "Ser mulher no Brasil e no mundo é sobre sobrevivência" Como foi esse letramento em relação ao machismo, à opressão feminina? Foi a idade, as mudanças na sociedade, ser mãe de uma menina? Foi um misto de tudo isso e, sem dúvida, ser mãe, principalmente de uma menina, é algo que ressignifica. Liga um alerta porque ser mulher no Brasil e no mundo é sobre sobrevivência, e é de uma responsabilidade imensa colocar mais uma futura mulher no mundo. Também fiz um filme, Ninguém de Ninguém [2023], que foi um divisor de águas na minha vida, principalmente em relação a relacionamento tóxico, porque falava exatamente sobre isso. Carol Castro @viniciusmochizuki quem O que aconteceu? Várias fichas caíram, principalmente um pouco antes de filmar quando começamos a falar sobre feminismo, relacionamento tóxico, sobre o patriarcado que tem que cair, os padrões errados que vêm há tantos anos sobrevivendo e estão enraizados na educação. Agora que a gente está quebrando ciclos porque educar é um reeducar-se, principalmente com essa conversa ampla [sobre tema como machismo] que não existia antes, ou à qual não tínhamos acesso. Nos bastidores desse filme, lendo o roteiro, foi caindo muita ficha, ‘nossa, eu vivi isso’. Fui reconhecendo situações e foi me dando gatilhos. Ao mesmo tempo que me dava um desconforto, pensei que aquilo não à toa chegou na minha mão. Eu preciso alertar as mulheres e os homens, os futuros homens, as mães que estão educando os futuros homens, os pais. É falar de situações tão absurdas como as que vêm acontecendo aí nas últimas semanas no Brasil em relação a algumas mulheres, a diferença de tratamentos que você olha, para e fala: 'Meu Deus, gente, o mundo tá ao contrário'. Carol Castro @viniciusmochizuki quem Vi seu post no Instagram, você se refere à Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, certo? Sim, Marina [a ministra, durante uma audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, em maio, foi alvo de falas de senadores consideradas ofensivas e machistas]. As pessoas não entendem que não é sobre partido, não é só sobre política. A gente está falando de humanidade. São tempos tão difíceis porque quando você se coloca, você se posiciona, é criticado. Eu já tinha as minhas opiniões, mas tinha muito aquilo de 'ah, não se arrisque, não se envolva em polêmica’ [no passado]. Quando eu dei a minha opinião sobre a loucura que eu achei a situação da CPI das Bets [o depoimento de Virginia Fonseca no Senado, em maio] e na mesma semana com todo aquele teatro, com toda aquela situação, [Virginia] ser chamada para ser rainha da bateria de uma escola [Grande Rio] onde o samba-enredo é sobre o Manguebeat.... Um movimento musical que eu vivi, eu ouvia muito Chico Science, muito Nação Zumbi, Mestre Ambrósio. E eu senti muito a morte do Chico, eu lembro quando teve o plantão da Globo, era à noite, eu aos prantos. Quando eu dei a minha opinião, eu não imaginei que iria virar o que virou, mas já que virou, vamos embora, né? "As pessoas não entendem que não é sobre partido, não é só sobre política. A gente está falando de humanidade. São tempos tão difíceis porque quando você se posiciona, é criticado" Hoje você se posiciona sempre. Eu realmente acabei me posicionando porque eu acho importante. Já que estamos falando de influência e já que eu estou aí há tantos anos, cresci aos olhos do público, falei ‘nossa, então, vamos usar essa influência para o bem, pelo menos o que eu considero o bem’. Vejo isso também como uma missão. Nina Simone, cantora de quem eu sou muito fã, dizia que o artista faz parte da revolução. Acaba sendo um ato político você se apresentar [atuar], mesmo quando você não está falando de política: é a questão sobre o machismo, sobre a misoginia, enfim, todo esse lugar de desrespeito. A gente está falando de desrespeito, de violência e até de crime. E nada acontece. Carol Castro @viniciusmochizuki quem Qual a reação quando você se posiciona? Vem assim ‘ah tá querendo lacrar, ah, faz o L, cadê o povo cantando Amazônia, ganharam não sei quanto’. Não tem dinheiro nenhum, meu amor. A gente está colocando a cara tapa mesmo em prol do que do que acredita que seja melhor. É focar no que importa, que é o caminho da luz, do bem e do que eu considero o lado certo da história. Sempre foi assim ou teve um momento de virada no seu ativismo? Eu já venho me posicionando tem um tempo, já perdi trabalho porque eu me posicionei contra um desgoverno X. Na época eu me senti meio 'que estranho, né? Mas tudo bem. Fazer o quê? Eu estou com a minha consciência tranquila, vou dormir feliz'. Por mais que você seja atacado nas redes, não tem que ter medo. Tenho certeza que a maturidade traz esse lugar também de 'está tudo certo, se gostar, gostou, se não gostar, não gostou'. Eu não estou aqui querendo lacrar, não estou aqui querendo ganhar likes, até porque se a internet acabar, eu tenho meu trabalho, eu posso fazer teatro, cinema, televisão. Estou tranquila comigo, com o meu trabalho. Tenho muito o meu ofício como uma missão, como algo sagrado e que eu valorizo e prezo muito. E já que eu tenho esse lugar de ser também uma formadora de opinião e ter uma certa influência, em uma época de influenciadores em situações ou ações com as quais eu não concordo, eu prefiro usar minha influência para um bem maior. Que seja uma luta contra o patriarcado, uma luta feminista, pelo meio-ambiente, pelos povos indígenas. Carol Castro @viniciusmochizuki Que outra causa move você? A luta pela equidade salarial entre homens e mulheres. É algo que eu pontuo muito, e poucas mulheres têm coragem de falar sobre isso no Brasil. Lá fora já vi fora atrizes como Sharon Stone, Cate Blanchett, Meryl Streep tocarem no assunto, sobre como é difícil e como é injusto ainda existir essa diferença de salário em qualquer profissão. Falando da minha, é muito cruel, porque muitas vezes fecham primeiro a mulher [para um papel] para então fechar o homem, porque tem um orçamento X e normalmente o homem recebe mais. Então eu vou colocando o assunto como uma pauta a ser pensada e discutida, porque é muito injusto. A mulher, ela não tem a igualdade, não só salarial, mas também até de tempo. Ela não é só mulher, normalmente é mãe. Acho importante usar esse lugar de fala que eu tenho para levantar essa essas questões que precisam ser debatidas e transformadas. "A mulher, ela não tem a igualdade, não só salarial, mas também até de tempo. Ela não é só mulher, normalmente é mãe" Você estreou muito nova, com 19 anos, em Mulheres Apaixonadas, e ficou conhecida do dia para a noite. O que manteve seus pés no chão? O fato de eu ser filha de um ator, que Deus o tenha, meu paizinho Luca de Castro, que se foi tem um ano e meio. Foi eu ter nascido nesse universo de coxias de teatro, dos sets de filmagem, que ele era ator, diretor, produtor, professor de atuação para TV em faculdade durante anos. Eu era pé no chão, já conhecia atores consagrados, para mim era mais natural. Só que eu senti na pele a força da televisão. De que forma? Morava em em Ipanema, passeava com meu cachorro duas vezes por dia. A novela foi ao ar, eu de biquíni, tatuada, no dia seguinte era todo mundo na rua apontando e eu fiquei meio assustada. Gracinha não era uma personagem amada, às vezes eu escutava atrocidades, as senhorinhas me seguravam. O curioso é que a novela foi reprisada da última vez, levantaram a questão de que à época, eu fui a única a ser apedrejada [no triângulo amoroso], o Cláudio [Erik Marmo] ficou bonitinho na fita, ninguém questionava as atitudes dele, porque 'a carne do homem é fraca'. Achei muito interessante de ver a diferença de gerações, essa mudança de leitura, de interpretação, de uma atitude de um personagem que depois viram que era um lugar de machismo, de ficou ali na dele bonitinho e ninguém questionou nada. Carol Castro @viniciusmochizuki quem O que você falaria para aquela Carol de 19 anos se encontrasse com ela hoje? Falaria 'acredite mais em você, tenha coragem de dizer certos nãos e continue a nadar que você está no caminho certo. Quando eu olho para trás, faria tudo igual porque eu tenho muito orgulho de ter chegado onde eu cheguei, sem passar para cima de ninguém, sem me vender para nada, com a consciência limpa, sem mentiras, sem tramoia. Acho que diria sobretudo para acreditar mais em si mesma, porque essa maturidade é muito bom em vários níveis, mas ela é incrível quando a gente percebe que não precisa da validação do outro para se validar. E eu demorei um pouco para entender isso. Não só como pessoa, mas como profissional também. Chegou um momento em que eu realmente vi que eu sou capaz de mais, então eu vou em busca de mais. Que momento foi esse em que você reconheceu sua capacidade? Foi um processo, mas, falando de televisão, foi um pouco antes de Velho Chico, e a novela em si já foi um pontapé inicial para eu falar 'opa'. Com a Clarice eu pude falar 'estou aqui no caminho pelo menos na televisão', porque no streaming e no cinema já tinha feito outro caminho [bem-sucedido]. Hoje venho amadurecendo também meu lado produtora. Quero ser uma atriz que vai produzir. Você está com 41 anos. Já sentiu algum tipo de etarismo, de mudança na percepção que as pessoas têm sobre você? Assim que eu aceitei fazer a Clarice, muita gente comentou: 'Mas como é que ela vai ser mãe da Duda e da Maísa’, me perguntaram se eu não me achava jovem demais. Ao mesmo tempo fiz a mãe de duas mulheres de 20 anos. Mas não estou preocupada se vou ser vista só como isso. Acho que se me colocarem nessa prateleira é um certo erro porque acabei de fazer 41. Não preciso fazer a menina de 20 anos, óbvio, por mais que tenha várias técnicas para isso hoje em dia. Não sei como é que vai ser depois daqui. Vamos ver os próximos personagens. "O homem fica grisalho e é charmoso, e a mulher tem que ficar retocando a cor, senão que absurdo!" Carol Castro @viniciusmochizuki E na vida real? Já começaram a dizer 'porque a senhora' (risos). O que senti muito e falo sobre isso direto, como é injusto a diferença de tratamento entre homens e mulheres. O homem fica grisalho e é charmoso, e a mulher tem que ficar retocando a cor, senão que absurdo. Na vida real sofri pouco etarismo, às vezes um lugar de tratamento. Mas o que eu sinto é como se eu estivesse aqui, com 41 anos, aí tem um precipício, e vêm as pessoas de 28, 30. Gente, estamos falando de 10 anos, pelo amor de Deus, na prática não é muita coisa, não é nada. Hoje os 40 anos não são iguais os 40 anos de antigamente, por tudo, por toda evolução da medicina, da alimentação. Você tem medo de envelhecer? Não vou mentir, medo todo mundo tem, eu tenho. Sempre gostei de andar e conversar com pessoas mais velhas do que eu, desde que era novinha. E tenho uma grande amiga, a atriz Elvira Helena, que já fez minha mãe no teatro, e eu achava bonito e muito corajoso da parte dela assumir o cabelo branco em 2007, quando não se falava nisso. Elvira falava 'Carol, o pior de tudo de envelhecer é que a cabeça continua a mesma, mas o corpo não acompanha'. Isso deve ser muito difícil, muito cruel, e torço muito para que eu envelheça com saúde, discernimento, consciência. Para isso, cuido muito do meu corpo, meu instrumento de trabalho. Não vou dizer que eu não tenho medo de envelhecer, mas eu procuro envelhecer com dignidade e com aceitação. Não tem o que fazer. É me cuidar e continuar sendo a pessoa que eu sou. Eu gosto de usar meia divertida e vou continuar usando meia divertida. Se quiserem me julgar por causa disso vão ter dois trabalhos, julgar e aceitar, porque eu não vou mudar. "Não vou dizer que eu não tenho medo de envelhecer, mas eu procuro envelhecer com dignidade e com aceitação. Não tem o que fazer. É me cuidar e continuar sendo a pessoa que eu sou" Carol Castro @viniciusmochizuki quem O que é a maturidade para você? Um lugar de coragem, de domínio de si mesma, autoconhecimento, e de encontrar também um estado de paz que está junto ali da aceitação de quem você é, de aceitar também, por exemplo, o luto, que é uma fase difícil. A única coisa que a gente não tem como mudar é que nós vamos morrer um dia, e que a ordem natural das coisas é a gente envelhecer, fazer a passagem. Tem também um lugar de espiritualidade e de lidar bem com o que vem depois. O que acontece quando a gente morre? Nesse lado eu sou bastante espírita, eu acredito que tem algo além, que tem missão, que tem reencarnação. Do que você se libertou com o tempo? Das amarras do meu autojulgamento, da minha autocrítica. Trabalho muito isso na minha terapia: o lugar de ser a minha pior inimiga, de me exigir muito e de, às vezes, buscar uma perfeição, de ‘me matar’ para trabalhar, para entregar o melhor, filmar com lesão. Não me arrependo de nada, fui super bem amparada, mas é aquilo, ‘vamos com calma, cuida bem de você, não seja tão exigente com você mesma, Carol, se acha que não ficou perfeito, no dia seguinte você vai lá e tenta fazer melhor'. Eu consegui soltar essas amarras e ter um pouco mais de leveza e carinho e acolhimento comigo mesma. Nesse processo você também se libertou de pessoas que não cabiam mais na sua vida? De certa forma, sim. E a vida vai afastando também muitas vezes e está tudo bem, da mesma forma como tem pessoas com quem você não fala há um ano, não respondeu mensagem, e continua tudo bem. Eu vejo como mais qualidade do que quantidade, que é algo que quero para a vida em todos os sentidos, seja no trabalho, seja em relação a amigos. Não tenho uma família grande de nenhum dos lados. Venho passando por perdas, e aí a gente vê que muitas vezes a família também está nas amizades. "Trabalho muito isso na minha terapia: o lugar de ser a minha pior inimiga, de me exigir muito e de, às vezes, buscar uma perfeição, de ‘me matar’ para trabalhar, para entregar o melhor, filmar com lesão" Sua filha vai fazer oito anos. Como sua maternidade mudou ao longo deste tempo? O que você aprendeu sobre você? É um crescimento conjunto, não deixa de ser. É também ir fortalecendo a sua rede de apoio, que é o que mais ajuda a mãe que trabalha, e focar nos tempos de qualidade com a Nina. Claro que a maturidade como indivíduo vai ajudando muito a educar, porque a gente fica mais dona de si, mais potente e sente mais segurança. É muito importante amadurecer junto com a sua cria, claro, que em níveis e lugares completamente diferentes. Essa fase que a Nina está agora é maravilhosa. Ela está entendendo o que é o meu trabalho, ouve as pessoas falando sobre ele, às vezes fala super orgulhosa de mim, que é minha filha, com muita admiração. Isso me preenche, de uma maneira maravilhosa. Ao mesmo tempo, essa fase atual não sei até quando vai. Ontem, ela pediu para eu fazer uma coisa que comecei quando ela era muito pequena, que é contar os dedinhos do pé, com uma vozinha [fininha], e aí quando eu vou contar o último dedinho, eu falo: 'Ué, cadê? Cadê? Ah, tá aqui, tá aqui, todo mundo aqui', e eu beijo os dedinhos. Nina pela primeira vez pediu para fazer com os dedinhos da mão também e ainda fez em mim, nos meus dedos da mão e nos meus dedos do pé (se emociona). É muito bonito ver que ainda existe a criança ali e vai sempre existir, nós todos temos a nossa criança interior, e seja ela ferida ou não, a gente tem que acolher, manter ela viva. Ao mesmo tempo, Nina já toca piano com as duas mãos, escreve cartinha para mim de melhor mãe do mundo de Dia das Mães. A minha evolução da maternidade evolui junto com ela. "A criança precisa é ver o pai e a mãe felizes, juntos ou separados" Como você e Felipe dividem a criação da Nina? A gente a gente dividiu bem igual, o tempo que ela fica comigo é igual ao tempo que ela fica com ele. Tem os dias da semana dele, os dias de semana meu, e finais de semanas também são divididos. Felipe também é uma pessoa que trabalha muito e tem a rede de apoio dele, que é um pouco diferente da minha. É muito desafiador você educar, e o mais difícil é educar não estando juntos, porque na minha casa funciona de um jeito, na casa dele talvez funcione de outro. Mas a gente tenta manter um diálogo sobre isso, por mais que muitas vezes seja difícil ou delicado. Pode dali sair uma farpinha aqui, outra ali, mas a gente mantém uma boa relação, diria até uma amizade mesmo em prol da nossa filha, e ter o máximo de diálogo possível.Também porque terminamos por acharmos que era melhor para o bem de todos, do nosso, individual, e da própria Nina, porque o que a criança precisa é ver o pai e a mãe felizes, juntos ou separados. Carol Castro @viniciusmochizuki O que teve na sua infância que quer repetir na da Nina? Esse lado lúdico bem aflorado, por isso que concordei muito quando o Felipe falou sobre ela fazer aula de música, ela está aprendendo piano e partitura, se apresentou ano passado com outros alunos de sua professora. Também tem a coisa de pé no chão, brincar, não fica tanto na televisão, ter contato com a natureza, mostrar muito a nossa cultura.... Tento não ser radical demais e ir pelo caminho do equilíbrio. Como você vivenciou o luto pela morte de seu pai? No fundo, no fundo, eu não tive exatamente muito tempo para viver esse luto, no verdadeiro sentido da palavra, de ter tempo de se resguardar. Meu pai faleceu 17 de dezembro, cancelei dois dias de trabalho para o velório, que foi muito emocionante, no teatro Café Pequeno, no Leblon. Estava com o joelho estourado, ele foi enterrado muito próximo do Natal... Foi bem difícil porque a gente tem que meio que disfarçar luto por conta da filha. Mas Nina me via chorando em alguns momentos, e eu explicava o que era para mostrar que está tudo bem chorar de saudade. Aí no dia 8 de janeiro já voltei a filmar, uma das primeiras cenas uma chamada de vídeo com o meu pai da série. E assim que acabou, eu caí em prantos, não teve jeito, né? Borrei a maquiagem inteira, refaz, 'tá tudo bem, Carol, você consegue', 'eu não consigo', 'vamos lá, vamos terminar esse dia' (se emociona). Finalizamos o trabalho dia 24 de janeiro, e 22 de fevereiro eu já estava entrando na faca, e vivendo com dor. Então era uma dor física, uma dor na alma, o psicológico super abalado. Depois vivi esse luto tendo que reaprender a andar, fazendo 40 anos. Eu achei que estaria dando uma festa, com meu pai presente, foi um mergulho interno muito forte. Mas de certa forma o trabalho foi uma bengala. "O luto é uma ferida que nunca se fecha, nunca cicatriza, porém a gente vai aprendendo a conviver com ela. Tem que deixar aquela memória viva, sorrir e continuar" A novela ajudou nesse sentido? Não só me ajudou como sinto que eu estou dando continuidade ao legado dele de certa forma, até porque eu sou atriz por causa de meu pai, que foi e sempre será minha fonte de minha inspiração. Os poetas fazem da dor um poema, os músicos fazem música, e eu fui atuar, fazer a Clarice, abracei esse desafio. Foi, talvez, realmente um momento de um nascimento, fênix total. Me deu talvez recursos é, até para minha atuação ficar mais aprimorada, não sei, de uma certa forma. Foi aquilo de tentar fazer do limão uma caipirinha, tentar transformar a dor em arte e usar e ser alimentada por isso, principalmente por ser um ofício que também era dele e tem esse lugar de continuidade, de legado. Eu sei que ele estaria gritando 'orgulho, orgulho, orgulho'. Eu ainda estou vivendo esse luto, não vou mentir. Mas já consigo falar sobre isso sem embargar a voz (Carol fica com a voz embargada). É uma ferida que nunca se fecha, nunca cicatriza, porém a gente vai aprendendo a conviver com ela. Tem que deixar aquela memória viva, sorrir e continuar. Eu me vejo falando coisas que ele falava sem querer. Aí eu paro e me emociono. É aprender a conviver com esse vazio que muitas vezes acaba sendo preenchido ou acalentado, acolhido através do meu ofício, que era dele também, que é a arte. Como é sua relação com as redes? Fui umas das primeiras [artistas] a ter Instagram, lá em 2011, mostrei um casamento que a gente grava em Morde & Assopra numa igrejinha da cidade cenográfica. O Instagram era mato, era foto, só foto, de flor, de céu, de pôr do sol (risos). Antes disso tive blog, fazia promoção com peça quando estava em turnê, tirava foto com os fãs, subia no blog, quando meu gato ficou doente, eu dividi toda a dor, tive Twitter [ativo]. Eu venho há alguns anos tentando organizar esse lugar porque é uma ferramenta muito potente e que virou o trabalho. Procuro usar só com empresas ou trabalhos e divulgações que eu concorde. Além, claro, das causas sociais. "Já aconteceu de falarem 'daria 10 milhões para ter uma noite com você', e eu respondi 'meu amor, pega esse dinheiro e doa, por favor" E de que forma você lida com o assédio nas redes, os comentários sobre sua aparência, a apropriação do corpo feminino quando, por exemplo, posta de biquíni, ou mostra sua tatuagem?Quando entro nas mensagens [inbox] passo por umas que falo ‘Meu Deus’, sabe? Tem mensagens que nunca vou esquecer. Já aconteceu de falarem, em post meu, 'daria 10 milhões para ter uma noite com você', e eu respondi 'meu amor, pega esse dinheiro e doa, por favor'. Mas eu tento lidar de uma forma leve e divertida, não dar peso [ao assédio] e prefiro focar em coisas melhores. Carol Castro @viniciusmochizuki quem Você está solteira? Estou solteira há mais ou menos um ano e meio. Mas foi muito importante para mim ficar esse tempo sozinha, eu precisava. Há muitos anos que eu não ficava mais de um ano solteira, sempre fui uma pessoa muito intensa e aconteceu de conhecer pessoas e ir emendando relacionamentos. Às vezes aparece alguém na sua vida que é intenso e, eu me permiti viver aquilo. Mas realmente estava precisando muito também desse tempo comigo, para viver o luto, focar no meu trabalho, na minha filha, no meu joelho, na minha saúde... Não estou exatamente procurando, mas eu acho que quando a gente não procura é quando aparece. E espero que apareça na hora certa. "Não me vejo tendo um relacionamento aberto ou esses formatos de hoje em dia" Sua vida é de muito trabalho, você tem uma filha pequena. O que procura em um companheiro? Uma mulher com filho é diferente de um homem com filho, não é mesmo? Para hoje em dia entrar na minha vida, com certeza seria uma pessoa que tivesse não só muito amor, óbvio, mas muita parceria, compreensão com o todo, com fato de eu ser mãe, de que a prioridade vai ser sempre a filha. Mas eu também sei dividir o lugar de ser mãe e ser mulher, que é muito importante a gente ter, senão a cabeça enlouquece, o nosso individual murcha, o que não é bom para ninguém. Que mais? Também ser uma pessoa tão aventureira quanto eu, que tenha um bom humor, que seja inteligente, que dê para a gente conversar sobre vários assuntos. Talvez eu esteja muito exigente (risos). Mas isso é o básico, Carol. Mas, né? (risos). Mas é isso, é um lugar de respeito, bom humor, inteligência, parceria, compreensão, que eu sinta uma segurança. Não estou muito querendo viver paixonites, eu sou uma pessoa intensa, então normalmente gosto de viver um relacionamento. E, assim, por mais que a gente viva um mundo supermoderno, eu ainda sou um pouco à moda antiga no sentido de querer ter uma pessoa ali comigo e só comigo, e eu é só com a pessoa. Não me vejo tendo um relacionamento aberto ou esses formatos de hoje em dia. 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