loading . . . Governo faz ‘pente-fino’ em cargos para cobrar fidelidade da base Parte do Planalto, por outro lado, alerta que retirada de indicações pode complicar mais a relação com parlamentares Diante de derrotas em série no Congresso, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), que tem a ministra Gleisi Hoffmann à frente, vem fazendo um pente-fino nos cargos indicados por integrantes de partidos da base. O movimento do núcleo de articulação política do governo busca contar com mais fidelidade de parlamentares ao governo, mas é considerado sensível no Palácio do Planalto.
Trama golpista: veja o que pesa contra Bolsonaro e os outros sete réus que serão interrogados nesta semana
Ciro Gomes reage à ação da AGU com novas críticas a Lula: 'Maior agente dos agiotas'
Auxiliares do presidente Lula envolvidos nas costuras afirmam, contudo, que não é simples retirar uma indicação de um aliado de um posto.
A estratégia, para não criar novas fissuras dentro da já frágil base parlamentar, é conduzir essas conversas com os líderes dos partidos, que também têm argumentado a necessidade de não mexer em determinados nomes. O Planalto quer evitar que ocorram disputas no varejo entre os deputados. Ao mesmo tempo, tenta se equilibrar para consolidar novos apoios com mudanças e conter a pressão de quem almeja os cargos.
Segundo estimativa de técnicos envolvidos no levantamento, 50% dos postos nos estados ainda estão com nomes indicados por parlamentares no governo anterior. Em geral, as vagas são ligadas a partidos que apoiavam a gestão de Jair Bolsonaro e agora estão, pelo menos em parte, com Lula.
A outra metade é formada por nomeações feitas durante o primeiro ano do governo, quando a Secretaria de Relações Institucionais era comandada por Alexandre Padilha. Há uma avaliação de que os acordos firmados no começo do governo estão desfasados diante da atual relação do Planalto com o Congresso.
Outro diagnóstico aponta que em alguns estados o indicado ao cargo no início do governo é hoje mais próximo do governador de oposição. Também há pactuações que foram feitas em um cenário em que o parlamentar assumiu o compromisso de dar apoio ao governo em 50% das votações.
Em cada estado, os deputados teoricamente da base têm a prerrogativa de nomear em torno de dez postos, em órgãos como Secretaria de Patrimônio da União (SPU), Dnit, INSS, Dnocs, Codevasf e Incra. As direções nacionais desses órgãos também têm suas indicações em disputa.
PL da anistia foi estopim
A adesão ao pedido de urgência do projeto de anistia foi o estopim para o pente-fino que vem sendo realizado. Das 264 assinaturas, 146 são de parlamentares de siglas da base do governo Lula, com ministros na Esplanada. A proposta não avançou até o momento por influência do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), mas o apoio de deputados de partidos com ministérios evidenciou a fragilidade do Planalto.
Um dos casos é o do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). O parlamentar indicou a superintendente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), responsável pelo Metrô do Recife, Marcela Campos, em setembro de 2023. A CBTU é vinculada ao Ministério das Cidades.
Marcela foi candidata a vereadora da capital pernambucana em 2012 pelo PP. Mesmo assim, tanto Eduardo da Fonte como o seu filho, Lula da Fonte, que também é deputado, assinaram a urgência do projeto da anistia. Procurados, os deputados não se manifestaram. A SRI não comentou.
Outro ponto de alerta foi dado com as assinaturas para abertura de CPI na Câmara e CPMI no Congresso para investigar o escândalo dos descontos indevidos no INSS. Na CPMI, das 259 assinaturas, 132 vieram de deputados ou senadores de PSB, PSD, MDB, União, Republicanos e PP.
O deputado Pinheirinho (PP-MG) tem indicações no Ceasa de Minas Gerais, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, e assinou a CPMI do INSS e a urgência do projeto da anistia. Procurado, ele não respondeu.
O deputado Márcio Marinho (Republicanos-BA) também foi favorável às duas iniciativas e tem cargos na Companhia das Docas da Bahia. Procurado, não se manifestou.
Há, porém, um receio de promover mudanças bruscas e complicar ainda mais a governabilidade. O movimento também é feito enquanto Lula, com fragilidades na relação com Congresso, aposta em estreitar a relação com Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Auxiliares de Lula veem que a indicação de cargos no governo tem peso político muito menor hoje em dia do que no passado. As emendas parlamentares, que são direcionadas para obras nas bases de cada deputado ou senador, são consideradas atualmente no Legislativo mais importante. Porém, emplacar um nome para um cargo de chefia no governo federal reforça influência e peso político do parlamentar junto ao seu reduto.
Uma análise preliminar já indica que há parlamentares com indicados nesses órgãos que votam com governo em 90% das votações, enquanto outros mostram apoio em menos de 15%. Deputados e senadores que têm índice maior de fidelidade, cobram mais espaço para defender o governo.
O PT é a sigla com mais incômodo com os postos indicados por parlamentares que não votam sempre com o governo. Há descontentamento com as superintendências dos Correios, na quais sete estão com o União, enquanto petistas tentam emplacar seus aliados. http://dlvr.it/TLFNV3