loading . . . Avanços e impasses nos hospitais federais do Rio: obras, reestruturações e críticas de servidores marcam o primeiro ano de mudanças
Bonsucesso amplia cirurgias, Andaraí e Cardoso Fontes reabrem setores, mas servidores, DPU e MPF temem perda de perfil de alta complexidade das unidades. Um ano após o início do processo de reestruturação dos hospitais federais do Rio de Janeiro, as unidades apresentam avanços em obras, reabertura de setores e aumento de atendimentos. Mas, apesar das melhorias, órgãos públicos e trabalhadores alertam para o risco de perda do perfil de alta complexidade, que sempre caracterizou a rede federal. A CBN ouviu todos os lados envolvidos nessa história para traçar um raio-x da rede hospitalar federal. O Hospital Federal de Bonsucesso foi o primeiro a ter mudanças. Em outubro do ano passado, a gestão foi passada ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Desde então, a unidade quase dobrou o número de cirurgias mensais, passando de 486 para cerca de 800. O número de leitos ativos, que girava em torno de 200, hoje chegou a 423. Além disso, a instituição passou a atender entre 3 e 4 mil pacientes por mês na emergência, segundo dados do GHC. Entre as obras realizadas estão a troca do cabeamento elétrico do local, que permitiu a segurança elétrica para reabertura de leitos. A superintendente do hospital, Elaine Lopes, afirmou que a expectativa é de que, ainda este ano, saia um projeto para reestruturação da subestação elétrica. Além disso, até abril, a parte de contratações deve estar resolvida. "O hospital vai ficar com um número de profissionais em torno de 4 mil, o que dá uma relação funcionário/leito bastante confortável. A gente espera, até o final deste ano, já estar fazendo o chamamento das vagas definitivas. A parte de RH está muito bem encaminhada. A gente já tinha feito investimento em torno de 30 milhões naqueles primeiros meses, e a gente vai fechar o ano com mais 20 milhões de investimentos, basicamente investimento em equipamentos assistenciais. Agora está em tramitação o projeto para a restauração de toda a central elétrica, a subestação elétrica do hospital. O projeto também já está pronto, é um projeto mais ambicioso, mais complexo e que também deve estar saindo ainda este ano", disse. Hospitais Cardoso Fontes e do Andaraí terão 85% das obras entregues no primeiro trimestre de 2026 Outras duas instituições que sofreram mudanças foram o Hospital Federal do Andaraí e o Cardoso Fontes, que tiveram a gestão repassada à Prefeitura do Rio. Em janeiro, o município iniciou obras e retomou as emergências das instituições. A Prefeitura afirma que há 11 frentes de reforma simultâneas, com 85% das intervenções previstas para o primeiro trimestre de 2026. Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, já foram reabertos setores que estavam fechados há mais de 20 anos. "Dois tomógrafos novos já foram instalados, já conseguimos ativar o setor de radioterapia do Hospital do Andaraí, as duas emergências dos dois hospitais foram reabertas, a gente abriu a enfermaria do décimo andar, que estava fechada há 21 anos, e a enfermaria do segundo andar, que estava fechada há 14 anos, e também concluímos a reforma de um dos andares do ambulatório. Ainda este mês, a gente inaugura o piso térreo, onde vai ser a nova emergência geral do Andaraí, e a gente inaugura ainda este mês o prédio administrativo do Hospital Cardoso Fontes", disse Soranz. Segundo Soranz, entre as entregas previstas estão a segunda etapa do Centro de Tratamento de Queimados, considerado o maior do país, que deve ser entregue ainda neste ano. A expectativa de Soranz é que, a partir do ano que vem, com a retomada da rede federal de forma mais intensa, haja um desafogamento da saúde municipal, aliviando hospitais sobrecarregados. Para o secretário, o principal ponto de alívio pode ser as cirurgias ortopédicas de vítimas de acidentes com motos, que vêm causando uma demanda expressiva para o município nos últimos meses. Servidores relatam poucas mudanças e temem perda do perfil de alta complexidade Apesar das reformas já iniciadas e da retomada de áreas paralisadas há anos, servidores relatam que as mudanças não têm sido profundas e temem alterações no perfil dos hospitais. Segundo sindicatos e trabalhadores ouvidos pela CBN, há uma migração de profissionais experientes para outras unidades, que ocorre após a mudança da gestão do Hospital Federal de Bonsucesso. O Sinmed-RJ, Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, diz que Bonsucesso teve 1.700 servidores estatutários, de carreira, que optaram por sair no último ano. Júlio Noronha, funcionário da unidade há mais de 40 anos e diretor do Sinmed-RJ, afirma que essa fuga de trabalhadores experientes já causa mudanças no perfil dos hospitais, além de ser prejudicial ao acompanhamento contínuo de pacientes. "Você reduziu a oferta de vagas de alta complexidade para Bonsucesso. Porque, para fazer hérnia e vesícula, qualquer lugar faz, entendeu? Agora, você fazer um câncer de vesícula, um câncer de cólon, um câncer de pâncreas, isso você tem que fazer num local que tenha estrutura. E os serviços de Bonsucesso, seja de gastro, pneumo, nefro, qualquer serviço desses, não é o maquinário que torna aquilo de alta complexidade, é a experiência de quem já está no serviço há muitos anos", afirma. As questões elencadas por Júlio vêm sendo debatidas em audiências públicas. A Defensoria Pública da União e o Ministério Público Federal manifestaram preocupações, no mês passado, durante uma audiência pública na Câmara Municipal. Entre as questões elencadas estão o acordo com a Fiocruz para absorção do Hospital da Lagoa, que, segundo a DPU, poderia reduzir o número de leitos disponíveis. Outros pontos são a dificuldade de contratação de médicos oncológicos e a não retomada das cirurgias cardíacas infantis em Bonsucesso, que é habilitado para o procedimento. Teresa Navarro Vannucci, diretora do Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, diz que os hospitais estão passando por um período de transição e que as reformas estão sendo feitas priorizando problemas urgentes de cada instituição, além de aliviar a rede municipal, que ficou sobrecarregada com o sucateamento da rede federal nos últimos anos. Ela afirma que a intenção do Ministério é preservar o perfil de cada hospital e, com as ampliações, reorganizar a rede pública de saúde do Rio de Janeiro. "Os hospitais municipais acabaram ficando muito sobrecarregados. Então, hospitais que seriam para atender só urgência e emergência acabaram também atendendo outras complexidades. A gente precisa reestruturar essa rede de uma forma geral, até para poder redividir, num segundo momento, a complexidade desses pacientes. Isso é um sonho nosso, quando a gente puder ter uma rede bastante organizada, uma rede que a gente saiba o papel de cada um dentro, onde a gente possa ter um atendimento de baixa e média complexidades sendo feito pelo município. Mas isso demanda que a gente reorganize a rede", pontua. Teresa afirmou à CBN que o Ministério vem colaborando e prestando esclarecimentos aos órgãos fiscalizadores, além de participar de todas as audiências sobre a rede federal. Ela também garantiu que os direitos dos servidores serão respeitados e que cada um deles poderá sempre escolher entre a possibilidade de permanecer no hospital que está trocando de gestão ou ir para algum instituto especializado ou outra unidade federal. Lagoa e o Hospital Federal dos Servidores do Estado têm destinos traçados No caso do Hospital da Lagoa, o Ministério da Saúde anunciou a integração do Instituto Nacional da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) com o Hospital Federal. O cronograma de integração prevê duas etapas. A primeira, ainda em 2025, estabelece a descentralização da gestão e dos serviços para a Fiocruz e inclui contratações, aquisição de equipamentos, reformas emergenciais, mutirões e abertura gradual de leitos. A segunda a partir de 2026, será focada na ampliação e diversificação dos serviços com foco em saúde da mulher, da criança e do adolescente. Já o Hospital dos Servidores será migrado para a gestão da Unirio via adesão à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). A expectativa é de que a mudança também permita reformas e ampliações de cirurgias e atendimentos. https://cbn.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2025/10/15/avancos-e-impasses-nos-hospitais-federais-do-rio-obras-reestruturacoes-e-criticas-de-servidores-marcam-o-primeiro-ano-de-mudancas.ghtml