O dia inteiro o amor exigindo um passado que redimisse o presente e o futuro.

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Mas lembrar-se com saudade é como se despedir de novo.

Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas.

Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? E no entanto não há outro caminho.

Domingo ela acordava mais cedo para ficar mais tempo sem fazer nada.

Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.

Para vermos o azul, olhamos para o céu. A terra é azul para quem a olha do céu. Azul será uma cor em si, ou uma questão de distância? Ou uma questão de grande nostalgia? O inalcançável é sempre azul.

Ah viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não para, viver parece ter sono e não poder dormir – viver é incômodo. Não se pode andar nu nem de corpo nem de espírito.

Não se incomode, porque Deus é mulher!

perder-se também é caminho.

Como se visse alguém beber água e descobrisse que tinha sede, sede profunda e velha. Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações.

Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido. O próximo instante é feito por mim? ou se faz sozinho?

Eu sou mansa, mas minha função de viver é feroz.

Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.

A esperança era o meu pecado maior.

E no entanto o que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.

Por mais amor que este homem tenha recebido, fui eu que lhe dei toda a minha alma e todo o meu corpo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

Não sinto loucura no desejo de morder estrelas.

De onde vêm os ecos de domingo? Eu que detesto domingo por ser oco.

Acho que sábado é a rosa da semana.

Não sei expressar-me por palavras. O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio.

Ver a esperança me aterrorizava, ver a vida me embrulhava o estômago.

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza?

Eu que sou doente da condição humana. Eu me revolto: não quero mais ser gente.

Para te escrever eu antes me perfumo toda.

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada

E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece.

Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?

Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia.

Eu te vivo como se a morte já nos tivesse separado. Tal a saudade que tenho de ti.

É também de minha natureza carregar nos ombros a culpa do mundo. Se todos sentissem isso talvez saísse um novo mundo. Uma pessoa só pode apenas sucumbir.

Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra?

Porque há o direito ao grito. Então eu grito.

Imagina só que estava chovendo e eu me lembrei de ti.

decifra-me, meu amor, ou serei obrigada a devorar.

A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia.

Eu ainda não sei controlar meu ódio mas já sei que meu ódio é um amor irrealizado, meu ódio é uma vida ainda nunca vivida. Pois vivi tudo - menos a vida. E é isso o que não perdôo em mim, e como não suporto não me perdoar, então não perdôo aos outros.

De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és?

Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.

Eu não sou nada. Sou um domingo frustrado.

Seria muito engraçado se um táxi me pegasse, me atropelasse e eu morresse.

Eu, que simbolicamente morro várias vezes só para experimentar a ressurreição.

Um dia eu disse infantilmente: eu posso tudo.

Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?

Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.

O horrível dever é ir até o fim. E sem contar com ninguém. Viver a própria realidade.

Sucumbi. Que podia fazer? senão ser a vítima de mim mesma.