hilda hilst bot
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trechos das obras de hilda diariamente
@scvrfvvce.bsky.social
Tenho preguiça, tanta preguiça pelos filhos que vão nascer. Dez, vinte, trinta anos e estarão procurando alguma cousa. Nunca se lembrarão daqueles que já morreram e procuraram tanto. Vão custar (ó deuses) a entender aqueles que se mataram.
about 1 hour ago
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Inteiro permanência no todo despedaçado do poeta.
about 3 hours ago
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Era além do pudor o peito em chama.
about 21 hours ago
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Verdade é o que tu me dizes: o amor, poeta, é alegria.
about 23 hours ago
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O casaco rosso me espia. A lã desfazida por maus-tratos é gasta e rugosa nas axilas. A frente revela nódoas vivas, irregulares, distintas porque quando arranco os coturnos na alvorada, ou quando os coloco rápida ao crepúsculo, caio sempre de bruços. A Vida é que me põe em pé.
1 day ago
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Há talvez a memória de tatos, um sentir rarefeito, um ouvido inexato deitado em solidão sobre o teu peito.
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A mesa de escrever é feita de amor e de submissão.
2 days ago
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Perguntou-me de chofre, ao anoitecer, diante do meu primeiro uísque (aprendi que qualquer bebida é menos fatal se se começa a beber a partir das 6 da tarde) se eu conhecia Chesterton (...) eu que deixei de pensar para continuar a viver me vejo diante de alguém que leu Chesterton.
2 days ago
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Ardi diante do lá fora, bebi o ar, as cores, as nuances (...) e tendo visto, tendo sido quem fui, sou esta agora? Como foi possível ter sido Hillé, vasta, afundando os dedos na matéria do mundo, e tendo sido, perder essa que era, e ser hoje quem é?
2 days ago
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Porque a meu lado tudo se faz tarde: amor, gozo, ventura.
2 days ago
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Andei em direção oposta aos grandes ventos. Nos pássaros mais altos, meu olhar de novo incandescia.
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Diante da luz do sol o meu rosto noturno de poeta te suplica que te demores muito contemplando o mundo (...)
3 days ago
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(...) hei de ficar tão velha e rígida como um tufo de urtigas, e leve num sem carnes, e tateante de coisas mortas, a cabeça fremente de clarões, a boca expelindo ainda palavras-agonia, datas, números, o nome dos meus cães (...)
3 days ago
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Ao meu lado, uma moça magrinha de ombros curvados. Ela diz um poema em voz baixa: se eu pudesse trocar esse meu corpo por um corpo de lobo, se eu pudesse ser mais voraz, se eu pudesse ter garras como estiletes, se eu soubesse de um só caminho de sangue como um lobo.
3 days ago
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Te pergunto: de Julho em mim ainda te lembras?
3 days ago
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Se você é o bicho medonho, você só tem que esperar menininhos nas margens do teu rio e devorá-los, se você é o crisântemo polpudo e amarelo, você só pode esperar ser colhido, se você é o menininho, você tem que ir sempre à procura do crisântemo e correr o risco. De ser devorado.
3 days ago
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Amanhã, vou chegar perto daquela árvore ao lado do rio, e de qualquer modo me matarei.
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Espera, o papa continua: malditos todos vós que vedes e que depois de ver mastigam seus jantares, amam suas mulheres e esquecem o que viram (...) o vosso destino não é um destino divino, não há lugar algum onde repousar (...) Atentai: um sol negro e imundo há de cair sobre vós.
4 days ago
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Na hora da minha morte estarão ao meu lado mais homens, infinitamente mais homens que mulheres (porque fui mais amante que amiga). Sem dúvida dirão as coisas que não fui. Ou então com grande generosidade: não era mau poeta a pequena Hilda.
4 days ago
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Teria sido melhor perecer do que levar às costas este mundo manchado de lembranças.
4 days ago
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Tinha o rosto de uns rios: quebradiço e terroso. O peito carregado de ametistas.
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Era alta a lua, e aberta a porta escura da minha casa vazia.
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(...) me exteriorizo grudado à minha História, ela me engolindo, eu engolido por todas as quimeras.
5 days ago
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E através dos vitrais as faces duras contemplavam a tarde no jardim. O movimento leve das figuras caía sobre a tarde e sobre mim. E no passeio as leves criaturas aspiravam o cheiro do jasmim. Vistas de longe pareciam puras na claridade de uma tarde assim.
5 days ago
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(...) há uma desastrada lembrança de mim mesma, alguém-mulher querendo compreender a penumbra, a crueldade (...) alguém-mulher caminhando levíssima entre as gentes, olhando fixamente as caras, detendo-se no aquoso das córneas, no maldito brilho.
5 days ago
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O Nunca Mais é de planície e fendas. É de abismos e arroios. É de perpetuidade no que pensas efêmero e breve e pequenino no que sentes eterno. Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.
6 days ago
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Guardo-vos manhãs de terracota e azul quando o meu peito tingido de vermelho vivia a dissolvência da paixão.
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Grita-me o louco: — De amoras. De tintas rubras do instante é que se tinge a vida. De embriaguez, Samsara.
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Sendo quem sou não seria melhor ser diferente e ter olhos a mais, visíveis, úmidos, ser um pouco de anjo e de duende?
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A vontade de ter asas e ao mesmo tempo a vontade de ter garras para poder cavar a terra do meu corpo. O meu corpo de terra. A vontade de olhar cada vez mais fundo para dentro de mim.
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E nos cobrimos de beijos e de flores antes que o mundo se acabe, antes que acabe em nós nosso desejo.
7 days ago
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Escuta, Hillé, aqui na vila, está me ouvindo Senhora D? (...) na vila me perguntam por você (...) querem saber o porquê das janelas fechadas, tento explicar que a Senhora D é um pouco complicada, tenta, Hillé, algumas vezes lhes dizer alguma palavra, você está me ouvindo?
7 days ago
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Amor, o que renasce. Voltando sempre. Docilmente sábio porque na suavidade nos convence a perdoar e esperar.
7 days ago
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Eu que me soube sempre parda e pesada como a pele da terra, são mistérios, ganchos talvez de uma vida de antes, há cadeias e argolas que se enroscam tanto que os dedos do divino nem podem desfazê-las, há poderosos peixes que se matam nas redes, pois não é?
7 days ago
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Um pouco do divino estava em nós.
8 days ago
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Agora, Lázaro, não se ouve mais o nome de Jesus e o símbolo da cruz é símbolo de ameaça. Nós, os únicos monges sobre a terra, conseguimos a permissão milagrosa de ficar aqui, mas não temos o direito de falar com os humanos e a nossa vida resume-se em esperar o homem novo e comer.
8 days ago
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Perderás de mim todas as horas porque só me tomarás a uma determinada hora. E talvez venhas num instante de vazio e insipidez.
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Pedimos tudo o que os senhores vão jogar no lixo (...) O que jogaram de Tolstói e Filosofia não dá para acreditar! Tenho meia dúzia daquela obra-prima A morte de Ivan Ilitch (...) e duzentos e dez O capital. (Jogam fora muito esse último, parece que saiu de moda, creio eu.)
8 days ago
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Que eu morra olhando as alturas. E que a chuva no meu rosto faça crescer tenro caule de flor (ainda que obscura).
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O poema se desfaz. Bem sei. E aos poucos morre. Se o gênio do poeta conseguisse a palavra com sabor de eternidade.
9 days ago
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Meu medo, meu terror, é se disseres: teu verso é raro, mas inoportuno.
9 days ago
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Meu Deus, um corno. Eu tenho um corno. Sou unicórnio (...) Espera um pouco, minha cara, depois da Metamorfose você não pode escrever coisas assim (...) mas eu sou unicórnio, é preciso dizer a verdade, eu sou um unicórnio que está fechado no quarto de um apartamento na cidade.
9 days ago
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Verdade devia ser o ninho pegajoso que eu pensava tão bem, as coisas não nos surgem à cabeça com a matéria de ventos, muitos fios e pelos se juntando é que formam a casa de abutres, desses de asa negra, um todo emaranhado de corvos dentro do meu sangue (...)
9 days ago
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(...) desesperada Ehud, porque todas as perdas estão aqui na Terra, e o Outro está a salvo, nas lonjuras, en el cielo, a salvo de todas as perdas e tiranias, e como é essa coisa de nos deixar a nós dentro da miséria?
10 days ago
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Se fosse profundo, nítido, conclusivo esse teu estar aí, estarias contente de tua própria solidão, altiva é que te sentirias de estar longe da caterva, do lixo da civilização, da cloaca do progresso (...) e segundo revelas, estás roída por dentro, vazia, ansiosa (...)
10 days ago
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Se é tão belo deve ter tido não sei quantas mulheres, ah, por que não pensei nisso? (...) esqueci-me do que um homem pode ter tido em outras terras, em cidades, ai, viciosas, velhacas e finas essas bandalhas mulheres, e ele de carne, úmido de orvalho, tão recente, tão novo (...)
10 days ago
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Tragam esta poesia que é preciso falar da amiga que se indo embora demora até voltar. E deste amor de pensá-la sem revê-la nascerá o meu canto mais sentido que o cantar dos amantes satisfeitos.
10 days ago
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Judas tenta falar, mas Maria surge na sala. Traz nas mãos o vaso de alabastro, ajoelha-se, derrama sobre os pés de Jesus um nardo precioso e enxuga os sagrados pés com seus cabelos (...) Judas afasta-se (...) De repente fala com aspereza: para que desperdiçar assim tanto perfume?
11 days ago
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(...) não venha, Ehud, posso fazer o café, o roupão branco está aqui, os peitos não caíram, é assustador até, mas não venha, Ehud, não posso dispor do que não conheço, não sei o que é corpo mãos boca sexo (...)
11 days ago
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Dirás: mas estás morto. Who knows, my dear? eu digo. Porque posso estar simplesmente ausente. Indiferente. Impassível. Ou posso estar morto na dimensão dos vivos e vivo entre aqueles, e o teu gesto terá a maciez, o cuidado, a doçura, o inequívoco das últimas despedidas.
11 days ago
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